Lembro de um episódio ocorrido anos atrás. Foi assim: o cônsul de um país europeu em Porto Alegre veio para uma reunião em Lajeado. Veio de carro, conduzido por um motorista. Na avenida próxima ao local de destino havia um solene quebra-molas. Como se sabe, há duas maneiras de enfrentar um quebra-molas: atravessá-lo em marcha lenta ou meter o pé e voar por cima. Bom, parece que o motorista preferiu a segunda opção ou, pode ser que simplesmente estivesse distraído. Não sei. Só sei que o cônsul sofria da coluna e nem sonhava com um solavanco no meio do caminho.
Aí já viu. O senhor cônsul chegou torto à reunião e, embora fosse um perfeito cavalheiro, chegou soltando fogo pelas ventas. Estava indignado com a lógica dos quebra-molas e não fez segredo. Para ele, os quebra-molas provavam que o Brasil não acreditava em educar para o respeito às leis. Aqui se preferia punir todos, não apenas os infratores. Com mais ou menos impacto, todos – inclusive o carro – eram castigados. E ainda se tinha coragem de pensar que o problema estava resolvido. Mas qual! Desse jeito, nunca se chegaria a um nível melhor de educação. Nunca – o senhor cônsul tinha certeza disso.
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Agora, quando há menos quebra-molas por aí e quando os redutores eletrônicos de velocidade estão metidos na discussão sobre corrupção em setores públicos, dá para lembrar do senhor cônsul.
Parece fato que confiamos pouco na responsabilidade dos motoristas. Passados os anos, continuamos mais ou menos conformados de que não adianta colocar uma placa com a velocidade autorizada. Se não houver polícia controlando, a maioria vai ignorar o aviso. E é claro que não há polícia suficiente para vigiar todos os motoristas o tempo todo. Nos países mais avançados, a maioria obedece simplesmente porque sabe que as leis são feitas para serem obedecidas. Aí, pegar os infratores fica bem mais fácil.
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Neste ponto chegamos a uma boa pergunta:
– O que é melhor: espalhar quebra-molas por todo lado? Aumentar o efetivo policial? Colocar câmeras para filmar os motoristas? Insistir com os redutores eletrônicos de velocidade? Educar a população para respeitar as leis?
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– Ah! Você acha que educar é a melhor opção?
Muito bem. Então é bom colocar as barbas de molho. Nem pense que isso é coisa para a escola resolver. A lição dada na escola passa quase por ridícula, quando mamãe-papai-titia-vovó estão se lixando para o compromisso de fazer a sua parte. Como se sabe desde que Adão jogava pião: o furo fica muito mais em cima.

