A partir desse posicionamento de Camargo conversamos com a psicóloga Cláudia Sbaraini, que analisa a solidão muito mais como um sintoma do que uma doença: “A solidão pode vir como uma consequência de doenças que impossibilitam o indivíduo de realizar suas atividades rotineiras e que por sua vez podem levar a uma depressão, fazendo com que o mesmo sinta-se solitário.” Neste sentido, a solidão aparece quando o indivíduo se isola ou, mesmo perto de outras pessoas, sente-se sozinho. Uma característica de nossa sociedade atual é a de que as pessoas estão cada vez mais individualistas e vivendo mais sozinhas.
A psicóloga ressalta que sabemos que pessoas que enfrentam doenças graves possuem muito mais força e ânimo quando se sentem acolhidas e cuidadas e que muitas vezes enfrentar momentos difíceis sem a ajuda de alguém é muito mais sofrido. “Tanto doenças graves como sentimentos de isolamento social podem levar facilmente ao desenvolvimento de outras comorbidades, principalmente a depressão”, alerta, informando que, segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde, em 2030, a maior causa de morte será por suicídio, decorrente de depressão, ao contrário de hoje, quando os índices apontam as doenças coronarianas como a maior causa de morte.
Conforme ela, o lado mais patogênico da solidão aparece quando para algumas pessoas ficar sozinho é como sentir-se abandonado, é ficar em um vazio, o que pode gerar muita angústia e tristeza. Tais pessoas não conseguem preencher esse vazio de uma maneira criativa e ficam evitando o sentimento de solidão, evitam ficar sozinhas em casa, buscam sempre a presença de alguém, mesmo que sua companhia não seja tão agradável. Também destaca que existem momentos da vida muito marcantes, nos quais não há como fugir da angústia da solidão, principalmente quando se perde uma pessoa muito próxima, quando os filhos saem da casa, a chamada “síndrome do ninho vazio”, ou quando um namoro é terminado, por exemplo. Nessa perspectiva, afirma que a capacidade de estar só está relacionada com a maturidade emocional, e cita a concepção defendida pelo psicanalista Winnicott de que “a capacidade de estar só é um dos sinais mais importantes do amadurecimento emocional de cada um.” Neste sentido, estar só e preencher este momento com atividades prazerosas ou ficar só, mas de uma maneira confortável, é um indicador de um organismo saudável.
A psicóloga também faz referência a uma característica de nossa sociedade atual – a possibilidade das relações virtuais, advertindo que muitas pessoas escondem ou “camuflam” seus sentimentos de solidão através das relações virtuais. “Talvez neste sentindo, o vazio que é sentido quando uma pessoa está só é tão angustiante que qualquer pessoa desconhecida e virtual alivia esse sentimento. Virtualmente é muito fácil esconder o que se sente e o que se é, pois a internet é um ambiente muito protegido, mas muitas vezes não é real”, finaliza.