AT – Qual sua avaliação da atual produção infantojuvenil brasileira? Poderia sugerir alguns autores?
Professora Rosane Cardoso – Vai muito bem, obrigada. Não faltam boas publicações e, sobretudo, o acesso a elas tem sido cada vez mais fácil. São muitos os bons autores de literatura infantil contemporânea. Além dos nomes mais conhecidos, como Lygia Bojunga, Ana Maria Machado, José Paulo Paes, destaco os trabalhos de Georgina Martins, Ângela Lago, Bartolomeu Campos de Queirós, Rogério Barbosa e vários outros. Acessar aos sites do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) pode dar uma boa ideia do que vem sendo produzido atualmente no país.
AT – De uma maneira geral, as bibliotecas públicas de nossa região contam com um acervo de qualidade? E os profissionais que nelas atuam contribuem efetivamente para o estímulo à leitura ( ou seja, estão preparados para tal?)?
Rosane – Atualmente, as bibliotecas escolares estão muito bem munidas de livros. Falo principalmente das escolas públicas, tendo em vista o incrível e qualificado acervo do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). Quanto ao preparo, é um passo de cada vez. Nas várias oportunidades que tenho tido de visitar escolas, o que noto é uma vontade muito grande de fazer o melhor possível. Há uma real preocupação com a formação de leitores. Mas fazer ler não é simples e exige continuidade no processo. Chegar ou levar alguém ao prazer da leitura é só um trecho do caminho. A formação contínua do professor e o seu próprio gosto pela leitura são fundamentais.
Sobre as bibliotecas públicas municipais, a questão é bem complexa, pois o objetivo é outro que atender a uma demanda específica, como é o caso da escola, cujo funcionamento da biblioteca está, a princípio, vinculado ao projeto pedagógico escolar.As bibliotecas públicas são e devem ser entendidas como patrimônio municipal, razão pela qual o trabalho precisa ter propostas claras, continuidade, independentemente do governo que assume o município, e funcionários qualificados. Pensando, por exemplo, no que se disse sobre a importância da participação da família e da comunidade na formação do leitor criança, vê-se logo o valor da biblioteca pública. Não se trata de somente fazer a criança ler, mas de termos leitores para além dos muros escolares, que seguem lendo porque têm disponibilidade de bom material de leitura e incentivo para ler.
Embora seja óbvio o motivo para a existência das bibliotecas, às vezes parecem ser apenas depósitos de livros, com leitores escassos. Eu gostaria de ver um projeto que capturasse os não leitores. Ninguém é obrigado a gostar de ler. Mas também não há por que desistir sem tentar.
AT – Como analisa a tendência da introdução de temas contemporâneos na nossa literatura infantojuvenil (desigualdade racial, separação de pais, nova constituição familiar, personagens com síndrome de Down, etc), que geralmente proporcionam à história um final mais próximo da realidade (bem diferente do tradicional “viveram felizes para sempre”)?
Rosane – A literatura infantil atual tem estado atenta para questões que não podem mais ser ignoradas. A fantasia segue sendo importante às infâncias. Porém, um bom texto literário não precisa prescindir da realidade. As crianças participam ativamente do cotidiano familiar, escolar, social, enfim. Não teria sentido enclausurá-las num mundo mágico quando, de fato, elas têm todas as condições de interagir e posicionar-se criticamente diante de determinadas situações. No entanto, deve-se ter em conta a conciliação entre um texto literário pertinente e o tema polêmico em questão. A leitura de um texto literário se dá na fruição. E esta vai se constituir numa trama bem amarrada, na criação de imagens, na identificação com as personagens. É isso que pode levar a uma discussão pertinente de um tema polêmico. É fundamental, nesse caso, a mediação de um educador que esteja realmente aberto àquela leitura para além de preconceitos ou moralismos.