As últimas cheias do rio Taquari deixaram cicatrizes profundas que merecem a atenção dos ambientalistas. Um volume extraordinário de sedimentos foi arrancado das barrancas, aumentando a calha do rio e diminuindo consequentemente a profundidade. Exemplo está no Passo do Corvo, no lado inverso do Centro de Colinas, onde percebe- se um enorme buraco na encosta e um paredão de terra pronto para ser engolido pela próxima cheia. Trata-se de uma das maiores mudanças de curso do rio Taquari atualmente em andamento. O assunto abordado pelo especialista em Ciências da Terra, professor de Geologia nos cursos de Engenharia Ambiental, Engenharia Civil e Biologia da Univates, mestre em Geociências, assessor em Planejamento e Gestão Ambiental Henrique Fensterseifer, no caderno Meio Ambiente, do jornal O Informativo, traz uma análise curiosa e bem realista.
A questão é do conhecimento da maioria dos agricultores que cultivam terras nas encostas do rio, principalmente próximo de ilhas: a alta vegetação das ilhas atua como barreira e impele o fluxo normal das águas no leito da calha principal para a lateral, desviando o potencial de erosão para as margens. Esse processo de dinâmica fluvial, sem a interferência humana, segundo Fensterseifer, torna inócua a tentativa de recuperação da mata ciliar.
O especialista comenta que são em torno de 60 locais desde Muçum até Lajeado, onde foram constatados significativos efeitos de erosão nas duas últimas enchentes. No trajeto podem ser encontradas 29 ilhas adjacentes, dentre outras em formação que interagem na geração de cicatrizes erosivas observáveis em ambas as margens, avalia. Neste sentido, diz que é no mínimo polêmica e curiosa, a intenção de preservar determinados fragmentos de mata ciliar do rio e exigir que seja cortada ou desbastada a vegetação das ilhas formada principalmente pela espécie sarandis. Além de um extraordinário enraizamento no cascalho, a vegetação tem poder de vergamento para resistir à correnteza da água e dificilmente é arrancada.
Fensterseifer percebe que, além do trabalho de recuperação das matas ciliares de arroios e rios, a manutenção das culturas e preservação das áreas agrícolas, existe a necessidade de realocar e fixar a calha para diminuir o impacto sobre as margens. “Isto implica na remoção mecânica de cascalho e na supressão, pelo corte, da vegetação instalada sobre as cascalheiras e ilhas. Sem esta solução, não há razão qualquer para o plantio de mudas de árvores nestes locais, com o intuito de recuperar a mata ciliar ou sustentar geotecnicamente os taludes da calha do rio”, enfoca.
Por último, Henrique faz alguns questionamentos: “até que ponto o homem deve interferir nas leis naturais e nos processos em andamento? Será que os ambientalistas concordarão com isto? Será que os órgãos ambientais admitirão licenciar tais procedimentos?” E conclui: “enquanto procuramos estas respostas, o rio Taquari continuará a traçar o seu próprio caminho”.