Com a chegada do Natal, é comum que as crianças tenham muitas expectativas com relação aos presentes, o que exige moderação de pais e parentes para evitar futuros consumistas desenfreados. Acompanhe nossos questionamentos à psicóloga Ivone Lúcia Brito.
AT – Como pais e familiares podem driblar o excesso de apelos publicitários que invadem os meios de comunicação e também as lojas a fim de não criar expectativas exageradas de presentes nas crianças, tentando mostrar-lhes qual o verdadeiro sentido do Natal?
Psicóloga Ivone Brito – Assim como pais e familiares necessitam driblar o excesso de apelos publicitários, as crianças precisam aprender a não exagerar nos pedidos, presentes caros, desnecessários e em quantidade absurda. Estabelecer limites para as crianças pode não ser tarefa fácil, mas é desta forma que os pais vão ensiná-las a respeitar os outros e a si mesmas, reconhecendo a diferença entre suas necessidades e suas vontades. A criança precisa aprender a esperar sua vez, compreender que precisa compartilhar, ser gentil e tolerante. Com o clima de Natal é interessante, nesses tempos de sustentabilidade, reaprender seu papel na sociedade e no planeta deixando simplesmente de acumular coisas. Ao dar um presente novo, estimule à criança a escolher um com o qual não brinque mais para doar. Com certeza, é um excelente aprendizado, pois pequenos hábitos fazem a diferença.
AT – Se não houver um ponto de equilíbrio, no sentido de limitar expectativas e presentes, futuramente a criança poderá tornar-se um adulto com problemas nesse sentido, tornando-se até um comprador compulsivo?
Ivone – Com certeza, a ausência de limites pode prejudicá-las muito no futuro. Os pais devem ficar atentos ao consumismo exagerado. É necessário ter cuidado para não compensar a ausência com presentes. Muitas vezes, ao ouvir um não, a criança pode ter a reação de chorar, resmungar, brigar, fazendo com que os pais se sintam injustos. Se, mesmo com as melhores intenções de poupar os filhos de qualquer tipo de sofrimento, os pais satisfazerem todas suas vontades, podem transformar seus filhos em compradores compulsivos futuramente. A partir dos três anos, a criança pode começar a aprender lidar com dinheiro, ela já tem noção de valor e de quantidade, por isso é bom ensinar-lhe que para ter dinheiro é preciso trabalhar. Alertando, pais consumistas geram filhos consumistas, as crianças seguem o exemplo que têm em casa, se espelham nos pais e tendem a seguir/imitar o que os adultos fazem. Assinalando, presentear e ganhar presentes é algo saudável, desde que com moderação.
AT – É possível perceber quando o consumismo exagerado já está instalado na criança? As típicas “birras” em supermercados e lojas seriam um indício?
Ivone – Uma cena típica que sinaliza o consumismo exagerado já instalado na criança são as “birras” em supermercados e lojas. Muitas crianças costumam dar vexames em lojas de brinquedos. A “birra” é uma forma de a criança protestar por algo que não concorda. Quando ocorrer, é importante que os pais deixem ela se acalmar e depois estabeleçam o limite. Muitos pais, para evitarem incômodos, cedem à chantagem dos filhos, que precisam entender que não é possível comprar tudo. É importante que os pais estejam prontos para tais reações e não se esqueçam de que os limites são para o bem da criança. A falta de limites da criança pode ter consequências negativas, afinal, a criança que não aceita regras certamente terá dificuldades para conviver com os outros na fase adulta.
AT – Na sua opinião, essa época de troca de presentes pode servir para estimular a solidariedade nas crianças desde cedo. Ou seja, fazendo-as entender que, como receberam novos brinquedos, podem compartilhar os que já têm (e que estão em bom estado) com crianças que não ganharam nada?
Ivone – Com certeza, essa época do ano pode e deve servir para ensinar à criança a ser solidária e compartilhar com outras crianças que não têm oportunidade de ganhar presentes, doando um brinquedo. As crianças precisam desde cedo se preocupar com o próximo, com o mais pobre, é uma questão de cidadania. É necessário estimular a solidariedade nas famílias, transformando-se em gesto concreto, como a doação de brinquedos. O verdadeiro sentido do Natal “votos de paz, amor, saúde e prosperidade” deve ser traduzido com gestos. É importante ensinar à criança que não podemos nos limitar apenas às boas intenções, ao sentimentalismo vazio, mas que temos que transformar isso em atitudes práticas.