Estava tudo pronto para um sábado especial. Era a primeira vez que receberia a nova namorada, a Carminha, e possivelmente queriam um pouco mais além dos beijos e carícias. Para tanto, Renato caprichou na janta: filé de linguado, um delicado purê de maçãs e arroz com ervas finas. Ele queria pratos leves e afrodisíacos – ou seja, que estimulem a paixão – temperados com raspas de gengibre. Só para dar aquele “calorzinho”, imaginou. Durante a tarde, bebeu um litro de um chá à base de flores de coroa-de-cristo, com sementes de guaraná e uma tal Fava de Santo Inácio, arbusto comum nas Filipinas e famoso por seus efeitos estimulantes. “Nunca me preparei tanto para um jantar”, confessou aos amigos.
Segundo os conselhos de “especialistas” em estimulantes sexuais, o gengibre “aqueceria” a namorada, o champanhe importado abriria as portas das mais excitantes fantasias e o peixe, grelhado na manteiga, garantiria a energia para uma madrugada plena de muita paixão. E tudo foi perfeito até o primeiro brinde e as primeiras garfadas do jantar, feitas entre sedutoras trocas de olhares. Ela elogiava os aromas exóticos, a delícia da bebida (que custara a Renato uma semana de trabalho extra).
De repente, logo após um beijo macio da encantada namorada, Renato sentiu um estranho calor subindo em seu ventre. Pior, não tomava o rumo de seu apaixonado coração, mas descia perigosamente pelo tortuoso caminho dos intestinos. O calafrio que se seguiu foi inconfundível e Carminha viu seu príncipe anfitrião obrigado à desesperada corrida para o banheiro. O chá “afrodisíaco” pedia passagem. Até as duas da manhã, Renato se contorceu entre lancinantes cólicas e humilhantes pedidos de perdão. Foi só no dia seguinte que o amigo que presenteara a tal raiz filipina lembrou de avisar que ele não podia exagerar na dose. Mas já era tarde demais. A noite com Carminha ficou para um outro sábado, numa pizzaria. Afrodisíacos, nunca mais!
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Mas Jaque Manica, atenta colega do AT, achou uma pesquisa onde diz que muito mais eficiente do que as essências de Afrodite é o homem lavar louças. Um recente estudo da Universidade de Riverside, na Califórnia, diz que partilhar as tarefas domésticas com as mulheres melhora a harmonia no casal e assim tem uma vida sexual mais satisfatória. “As mulheres tendem a sentir mais atração sexual e afeição pelos maridos se eles compartilham as tarefas domésticas”, disse Joshua Coleman, psicólogo do Conselho das Famílias Contemporâneas (CCF, na sigla em inglês).
Então, a receita não importa. O negócio é se agarrar à esponja, lavar a louça e observar ela totalmente seduzida por tua disposição de dividir até essas coisas singelas do dia a dia. Na ilustração da matéria, tinha um cara sem camisa, barriga em forma. Nós gordinhos, é melhor manter o avental e improvisar no resto.