Quem é você? Está em férias, ou em casa curtindo uma “separação voluntária” da família? Chocado com a estiagem, com as chuvas de granizo ou mais feliz com o sol todo dia, especialmente no litoral e nos parreirais que prometem o melhor de todos os vinhos da década. É sempre assim, o infortúnio de um pode ser o júbilo de outro. Então, eu abro um sorriso feliz para todo dia de sol e acendo uma vela para qualquer santo, em nome de chuva que regue a soja – que vai ter preço bom no mercado internacional, devido à escassez, e que possibilite novas safras de milho e feijão, já que o arroz é irrigado e vai ter para todos.
Os jornais têm reforçado a necessidade de mais investimentos em cisternas, barragens e lavouras irrigadas. Vai faltar dinheiro para tanta carência. E eu, dividido entre a cidade e o campo, escolho qual o melhor enlatado para enfrentar a crise. Quem é você, cidadão? Está aí, cheio de culpas e obrigações, ou chutou o balde? Tirou a máscara e caiu na farra? Lavou o pátio que já estava coberto de pó? Ou ficou quieto em casa, com a refrigeração ligada no máximo para conseguir dormir?
Escrevo inspirado nos mais controversos sentimentos expressados nos últimos dias pela mídia do Estado. Gente circulando pela praia sem poder dizer que o dia é bonito porque tem sol, por exemplo. É bonito sim. Feio é não ter um mínimo intervalo de chuva. Ouvi de um amigo que retornou do litoral, que duas colegas suas, parceiras de trabalho, que haviam deixado os maridos em casa e não estavam enfrentando problemas de solidão. Interprete-se como bem entender. Casais estranhos esses. Vivem o inferno do cotidiano e, na hora de dividir um pouco de brisa ou “nordestão” de praia gaúcha, optam por ficar cada um seu canto. O que o ilustre leitor depreende disso?
Eu, neste ano, mais uma vez ficarei sem férias. Coisas de uma agenda desorganizada. Quem sou eu? Um sujeito que vai dar jeito nesta confusão profissional e, no próximo ano, ou quem sabe no inverno, dar uma escapadinha (acompanhado, é claro). Enquanto isso, torço por chuva no lugar que precisa de chuva, sol no litoral, na Serra, e depois de volta às lavouras, para dar viço ao que foi plantado. Sem culpas, sem repassar obrigações a terceiros. E sem cinismo, principalmente.