Trata-se de uma experiência inesquecível para a criança, desde que parta de sua vontade própria, adverte a psicóloga Ivone Lúcia Brito. Além de uma experiência gostosa, esse é só mais um avanço em seu desenvolvimento, uma aventura com significado de independência. Veja as respostas da psicóloga aos nossos questionamentos.
AT – Há uma faixa etária mais comum para que os filhos comecem a pedir para dormir na casa de parentes ou amigos? Para que não ocorram “imprevistos” é necessário que a criança já tenha uma certa segurança emocional?
Psicóloga Ivone Lúcia Brito – A idade e/ou momento certo para a criança dormir na casa do amigo é quando ela pedir para os pais. É uma experiência inesquecível para elas. Além de uma experiência gostosa, este momento está sinalizando um avanço no seu desenvolvimento. Portanto, não existe uma idade certa para a criança passar a noite longe dos pais, mas é necessário que tenha algumas habilidades desenvolvidas como: fazer o xixi no banheiro, não ter medo de dormir sozinha e ter conquistado certa segurança emocional. Cada criança tem o seu tempo, existem crianças que com aproximadamente 4 ou 5 anos ficam bem na casa do amigo. Enquanto, outras, com 9 anos, não conseguem, não se sentem preparadas para dormir na ausência dos pais. É importante que se sintam capazes para esta aventura, que também é um sinal de independência.
AT – E nos casos emergenciais, por exemplo, quando alguém adoece, e a criança precisa passar a noite com outras pessoas (ou seja, a ideia não partiu dela), como proceder? É melhor pedir que alguém conhecido venha dormir com ela ao invés de levá-la à casa de alguém?
Ivone – É recomendável que os primeiros passeios para dormir fora do lar aconteçam na casa de alguém da família, como, por exemplo, na casa dos avós ou de tios. Com pessoas que a criança esteja acostumada. O ideal é não forçar. Em caso de emergência, quando alguém adoece e a criança precisa passar a noite com outras pessoas, se possível, que durma na casa de um parente próximo e que tenha um bom vínculo. Uma dica: que a criança leve um objeto de transição: um bichinho de pelúcia, um travesseirinho, um brinquedo. Este objeto de proteção servirá para dar apoio emocional para criança que neste momento estará longe dos pais.
AT- Como os pais podem lidar com a insegurança que sentem, para evitar que também deixem seu filho inseguro? Telefonar para dizer boa noite é recomendável ou não?
Ivone – Nesta nova experiência não é somente a criança que fica ansiosa, os pais também ficam inseguros, com receio que o filho não vai se comportar adequadamente na casa do amiguinho. Neste momento é essencial confiar na criança. Os pais devem evitar ligar toda hora para saber como vão as coisas, esta atitude deixará o pequeno inseguro. Combinar com o filho um horário para telefonar, por exemplo, antes de dormir ligar para saber como foi seu dia. Outra dica para que os pais fiquem mais tranquilos é saber quem são os pais do amigo do seu filho. Não é inconveniente ligar, não vão pensar que estão desconfiando deles, eles fariam o mesmo nesta situação.
AT – E no caso de, na hora H, a criança querer voltar para casa, como proceder? Chamar os pais para buscá-la? E como lidar com essa experiência da “vontade não concretizada”?
Ivone – No caso de, na hora H, a criança querer voltar para casa. Nessa hora, os pais devem ser companheiros e amparar seu filho. Nunca dar bronca ou comparar com o irmão. É necessário que se sintam seguros para tentar outra vez. Neste caso, falar sobre um acontecimento parecido com alguém da família fará com que a criança não desista também, ela precisa aprender desde pequena a lidar com a frustração de maneira natural.
Para que a aventura seja positiva, é importante:
- Que a casa do amiguinho não fique muito longe da sua, para que possam buscá-lo caso a experiência seja mal sucedida
- Informar aos pais da outra criança dos rituais de sono do seu filho e de suas preferências alimentares
- Lembrar de colocar na sua mochila um objeto preferido ( a criança pode estar habituada a dormir, por exemplo, com bichinho de pelúcia)
- Informar das suas capacidades a nível de higiene pessoal (escovar os dentes e tomar banho sozinho)
- Informar se não consegue dormir com o quarto totalmente escuro ou com muita luminosidade.