Como pode uma doença que se apresenta no corpo não ter uma base orgânica? Parece estranho dizer, mas esse é um fato cada vez mais comum.
No Brasil, de acordo com a psicóloga da Prefeitura de Pouso Novo, Ana Paula Mucha, “as doenças psicossomáticas estão ganhando evidência. Devido principalmente ao novo modelo de assistência à saúde, as doenças relacionadas ao ‘emocional’ vêm ganhando destaque. A formação na área da saúde de hoje propõe uma prática integrada entre as diversas profissões e incentiva a discussão e reflexão dos casos, para além da simples medicalização e contato rápido com o paciente.”
A presença de pacientes com sintomas sem uma base orgânica correspondente ocorre em todas as áreas da medicina e é reconhecida há muitos anos. Os pesquisadores americanos com diversas publicações sobre doenças psicossomáticas e relacionadas ao estresse não encontraram causas orgânicas em mais de 80% das consultas de atendimento primário agendadas para avaliação de sintomas comuns, como dor no peito, tontura ou cansaço.
Um dos termos utilizados como alternativa de explicação a este fato é o de somatização, basicamente, seria uma manifestação de conflitos e angústias psicológicas por meio de sintomas corporais. O psiquiatra americano Lipowski propõe que a somatização “é uma tendência que o indivíduo tem de vivenciar e comunicar suas angústias de forma somática, isto é, através de sintomas físicos que não têm uma evidência patológica, os quais atribui a doenças físicas, levando-o a procurar ajuda médica”.
A psicóloga destaca a relação tênue relação entre emoções e órgãos do corpo. O principal indicador disso, segundo ela, é o coração, “que acelera quando se está apaixonado, com medo, com raiva, sob tensão… dizemos ainda que ele está ferido/partido quando sofre uma desilusão, situação onde ele infelizmente bate devagar. Não é de estranhar que muitas das pessoas hipertensas sofram de dificuldades emocionais, como o próprio nome da patologia sugere são hipertensas.”
A doença psicossomática
O termo doença psicossomática é utilizado para doenças com causa psicológica, nas quais a pessoa também apresenta alterações clínicas detectáveis por exames de laboratório, ou seja, o corpo da pessoa está tendo danos físicos.
De acordo com Júlio de Mello Filho, médico, professor e psicanalista brasileiro, fundador da Associação Brasileira de Psicossomática, a expressão doença psicossomática foi utilizada inicialmente para referir-se apenas a certas doenças, como a úlcera péptica, asma brônquica, hipertensão arterial e colite ulcerativa em que as correlações psicofísicas eram muito nítidas, posteriormente, contudo, passou-se a perceber que tal concepção é potencialmente válida para todas as doenças.
Nesta perspectiva, Ana Paula sugere: “Preste atenção em você mesmo, procure pensar no que está errado em sua vida: Seu relacionamento com colegas? Seu casamento? Insatisfação no trabalho? Dificuldade nos estudos? Olhe para isso. Trate o que tem que ser tratado. Trate o emocional, porque o corpo chama a atenção quando o psicológico não está bem”, finaliza.
Quando estiver doente, ela aconselha refletir consigo mesmo, antes de procurar um médico (ou vários médicos) e tomar vários remédios: Por que será que estou assim? “Talvez a pílula mágica que buscamos para nossas angústias não esteja numa prateleira de farmácia nos aguardando, dependerá de um trabalho pessoal mais desgastante e demorado que isso, porém, com resultados positivos inimagináveis”, explica.
Tratar um problema psicológico ajuda a tratar das doenças do corpo e também previne para que seu sofrimento mental não faça o corpo adoecer, além de facilitar para que você se torne uma pessoa melhor, ainda que só para você mesmo. Por isso, Ana Paula atenta para o fato de que para o tratamento das doenças psicossomáticas é importante que o paciente seja acompanhado por um médico e também por um psicólogo.