Desejar um bom dia a um vizinho, a um familiar ou a qualquer pessoa desconhecida, ajudar alguém que precise pode ter um efeito de duas vias, ao mesmo tempo que estamos dando, também estamos recebendo.
A isso, na opinião da psicóloga Cláudia Sbaraini, podemos chamar generosidade, ou seja, todos sabemos e até já vivenciamos situações em que um pequeno gesto como um sorriso, uma gentileza ou um agradecimento podem transformar nosso dia e até nosso humor.
De acordo com Cláudia, atualmente vivemos em um mundo cada vez mais escasso deste tipo de virtude, acabamos ficando com a impressão de que isso é coisa de um tempo que já passou, coisa de pessoas mais velhas. Talvez quem é mais jovem e ainda não foi habituado a uma educação mais polida e até mais formal não consiga compreender a importância que algo tão simples possa ter um poder tão transformador: “Em nossa sociedade atual existe uma inversão de valores, estes hábitos simples são menos valorizados do que o status financeiro, pois é muito comum admirarmos um carro novo, a casa nova, o crescimento financeiro de alguém muito mais do que poderíamos admirar se uma pessoa é educada e solidária. No entanto, existem valores que o dinheiro não pode comprar: a cordialidade, a solidariedade e a empatia com os outros. Este é um ensinamento que só pode ser ensinado desde cedo e somente será aprendido pelo exemplo que os pais dão a seus filhos. Para muitos, este é o bem mais precioso que pode ser deixado para um filho.”
Cláudia recorre à definição de altruísmo, dar sem receber em troca, afirmando que podemos concluir que isso não existe, pois cada atitude altruísta nos dá algo em troca, nos dá uma agradável sensação de bem-estar. Ela cita casos mais extremos de ajuda, pessoas que colocam sua vida em risco para salvar outras pessoas, levando-nos a questionar o porquê desta atitude, o que faz com que um ser humano coloque em risco seu instinto de autoconservação?
Conforme ela, o que move uma atitude altruísta são razões pessoais, para muitos ajudar ou sentir empatia por um estranho torna sua vida mais significativa e valorizada. Neste sentido, são pessoas admiradas e respeitadas por todos. Mas talvez não seja necessário radicalizar tanto, não é preciso correr riscos para nos sentirmos valorizados e com boa autoestima. Atitudes simples, gentileza e cordialidade com quem está próximo a nós podem fazer com que algumas mudanças aconteçam. O poder da solidariedade e o retorno que temos desta atitude, tanto em gratificação pessoal, por nos sentirmos bem, quanto pelo reconhecimento que os outros terão de nós é muito maior do que atitudes de egoísmo, individualismo ou falta de delicadeza com as pessoas.
Ao citar a fábula do sol e do vento, que procura mostrar que a gentileza e a amizade são muito mais poderosas que a fúria e a raiva e que sendo gentil conseguiremos muito mais do que sendo hostis com os outros, Cláudia relata que o sol e o vento estavam se desafiando para ver quem tinha mais poder. Viram um homem passando e fizeram um desafio de quem conseguiria fazer com que ele tirasse o casaco. O vento, muito agitado, começou a soprar com muita força e fúria, mas de nada adiantou, o homem se agasalhou ainda mais em seu casaco. Então foi a vez do sol, ele apareceu e começou a esquentar suavemente, com calma e sem pressa. O homem, então, tirou seu casaco por sentir calor. O sol se virou para o vento e disse que de nada adianta se mostrar com fúria e raiva, pois com suavidade tudo funciona muito melhor.
Para finalizar, a psicóloga conclui que a “fábula nos mostra que o poder realmente está na gentileza e na calma, e não na raiva, pressa ou agitação de nossas atitudes. Nosso retorno será muito maior se conseguirmos trabalhar isso dentro de nós, ser gentil e solidário com quem está próximo tem um efeito extremamente positivo para nós mesmos.”