Flores, bombons, homenagens oficiais, discursos e artigos em jornais. Tanto se fala a cada 8 de março, Dia Internacional da Mulher, que me sinto repetitivo – especialmente eu, que muito escrevi sobre esta data, para gente que assessorei como jornalista. Tenho medo de que acabe feito um Natal, onde tudo é um blá-blá-blá a respeito da paz entre os povos e tudo o que se vê é uma correria desorganizada ao consumismo exacerbado. Não podemos esquecer a origem deste dia: a brutalidade que matou uma centena de mulheres norte-americanas que, por protestarem por melhores salários e condições de trabalho, foram queimadas vivas em seu próprio local de trabalho. Isso ocorreu em 1857, em Nova Iorque. Hoje, a situação melhorou, mas a ignorância da repressão contra as mulheres ainda sobrevive e mutila, em pontos bem específicos deste planeta.
Como homens podem se voltar contra o útero que os abrigou? Não existe inferioridade na delicadeza. Cresci em uma família de trato respeitoso entre homens e mulheres. Lembro de meu avô materno, que não sabia fritar um ovo, jamais servira o próprio café ,e como isso irritava minha mãe, que o chamava de machista. Talvez estivesse certa, mas acredito que o problema não estava ali. Ele pegava no pesado. Cortar grama, trocar telha quebrada, pequenos consertos. Igual a tantos outros casais. Ele, provedor, ela, do lar. Caso minha avó resolvesse trabalhar fora de casa, quem cuidaria dos filhos? Creche naqueles tempos era coisa rara. Talvez economicamente não fosse bom.
A libertação de um gênero não está apenas na fuga do estereótipo, mas na construção de uma convivência de respeito e equilíbrio. A vida sofrida, a rotina entre as panelas de minha avó, ou em meio ao pó de chumbo, como fazia meu avô na antiga gráfica, era compensada pela relação absolutamente equilibrada entre eles. Cada um atento a seu espaço. Eu os via resolvendo atritos com diálogo e uma sábia aplicação da tolerância. Jamais assisti um a constranger o outro. Quando ele aposentou-se, continuou a trabalhar, a grana era curta. Contratou uma auxiliar para a minha avó. A situação dela era ainda pior, sem aposentadoria remunerada, e aí, sim, a discriminação.
Eu a ouvia resmungar que as mulheres que não saíam de casa eram tratadas como um bicho de estimação. Ou pior. “Escravas!” bradava. “Mas tenho culpa de gostar do que faço?” E usava como exemplo minha tia, sua irmã mais nova, que sempre trabalhara em escritórios e teria direito à aposentadoria. Mal sabia minha avó que esta sofria a ver homens trabalhando menos e ganhando mais. Cargos de chefia? Nem pensar. Ou seja, se é para lembrar este dia, que seja para exigir melhores salários e jornada de trabalho compatível. Seja em casa, administrando o lar; ou como profissional, assumindo com inegável responsabilidade e competência tudo o que faz. Acho que é isso. E para não dizer que não falei de flores, que minhas leitoras recebam os mimos que merecem, principalmente, por aturarem a nós, homens – seres desengonçados que muitas vezes mais atrapalham do que ajudam.