O conceito de angústia vem sendo revisto e modificado ao longo do tempo. Primeiramente foi definido pelos psicanalistas Freud e Lacan. Atualmente, conforme a psicóloga Ivone Brito, a angústia apresenta-se nos consultórios com assustadora frequência sob o rótulo de “pânico”: “Com muita frequência chegam aos consultórios médicos e psicológicos sujeitos acometidos por sintomas que remetem à angústia. A maioria destes pacientes procura ajuda já com autodiagnóstico: ‘doutor sofro de Síndrome do Pânico’.”
Essa realidade tem feito profissionais da área questionarem o que seriam esses ataques de pânico tão frequentes nos dias atuais, seria uma reação corporal, uma descarga no corpo, sem intermediação, de um excesso com o qual o sujeito não é capaz de lidar?
Na opinião de Ivone baseada na Revista Psique Ciência & Vida, edição março/2012, possivelmente esse tipo de sofrimento não é mais causado pela repressão, pela falta, mas, sim, pelo excesso, pela “falta de falta”, como enuncia Lacan: “A sociedade atual evidencia, onde a perda e a falta são inaceitáveis, insuportáveis e, desta forma, busca-se o tempo toda a completude adquirindo novos objetos, na esperança de preencher os vazios, proporcionando de forma ilusória a satisfação plena.”
Portanto, a psicóloga afirma que “pânico” nada mais seria que um nome moderno, um rótulo atual conferido a algo que Freud e Lacan já estudavam profundamente há mais de meio século – a angústia.
A falta da falta
Atualmente, a busca do ser humano é pelo prazer imediato e ilimitado, sem contenção e sem barreira. O importante é gozar a qualquer preço. A mídia proclama: por que resistir às tentações… pecado é tentar resistir. Impossível opor-se à tamanha oferta disponibilizada. Esta busca desesperada por uma “poção mágica”, impedindo o reconhecimento da falta, da incompletude e do sofrimento, é uma das características marcantes da atualidade, alimentada diariamente pela nossa cultura. Este “medo do vazio” representa a dificuldade de estabelecer limites, em lidar com as regras, suscitando questões como: qual é o limite? Quando basta? A morte seria o limite?
Conforme explicação de Ivone, há uma diferença crucial de pensamento com relação à angústia: enquanto Freud argumenta que uma das causas seria a separação da mãe. Lacan aponta como causa a falta desta separação, a angústia surgiria, a partir da sua presença massiva e sufocante.
Na tentativa de abrandar sua angústia, o ser humano lança mão de diversos objetos, desde o álcool e outras drogas, até comida, trabalho e sexo. A problemática ocorre quando a relação que se estabelece com os tais objetos é marcada pelo excesso, justamente a marca da atualidade. Este excesso descarregado nos objetos citados pode implicar no surgimento de transtornos e doenças sucedidas desta relação, de forma inconsequente. Transtornos como anorexia, bulimia, depressão, dogradição e alcoolismo podem ter uma relação com a angústia. Podendo advir da tentativa desesperado do sujeito de aplacar a angústia. Também o suicídio pode ser visto como uma forma desesperada, definitiva e radical do sujeito terminar com a angústia.
Para finalizar, Ivone cita um pensamento que atribui ao princípio do vazio: “É preciso deixar um espaço, um vazio para que novas coisas cheguem a tua vida. É preciso se desfazer do inútil que há em ti e em tua vida para a prosperidade possa acontecer. A força deste vazio é que atraíra e absorverá tudo o que desejas.” (Joseph Newton )