O mercado de trabalho oferece oportunidades nas mais diferentes áreas, fato que muitas vezes deixa jovens e adolescentes em dúvida na escolha de uma profissão. Você sabia que, sem cobranças e imposições, pais e familiares podem se tornar parceiros de seus filhos nessa hora?
O importante é ter em mente que a decisão não depende somente de habilidades, mas de gosto pessoal, de identificações estabelecidas com certas pessoas e/ou situações, de expectativas criadas durante as diversas fases do desenvolvimento. Saiba mais sobre o assunto a partir dos questionamentos feitos à psicóloga Bernardete Pretto, do Curso de Psicologia da Univates.
AT – Em que medida o fato de pais e familiares próximos ouvirem, observarem e dialogarem com seu filho (enfim, conhecê-lo) pode, no futuro, ajudá-lo a escolher uma profissão?
Bernardete – Penso que o fato de escolher uma profissão e, além disso, fazer a escolha certa, aquela que nos fará feliz e nos trará satisfações, depende de uma condição, entre outras, que é a de autoconhecimento. Neste sentido, quanto mais os pais e familiares puderem observar e dialogar com seus filhos a respeito das mais diversas questões relacionadas a suas vidas, maiores as chances de estes poderem desenvolver uma percepção mais realista e verdadeira a seu próprio respeito. Além disso, a escuta e o diálogo geram sentimentos de segurança e estimulam o raciocínio e a visão crítica a respeito de si mesmo e do mundo. Uma criança ou adolescente que tem a possibilidade de conversar abertamente com pessoas adultas a respeito de suas dúvidas, de seus pensamentos, pode lidar com mais tranquilidade na hora de decidir por uma profissão.
AT – Quando os pais observarem uma determinada habilidade, como ter facilidade de se relacionar, de liderar um grupo ou até mesmo uma habilidade manual, o mais adequado é estimular ou não dar tanta atenção, deixando para que, mais adiante, o próprio filho crie um autoconhecimento?
Bernardete – O fato de definir-se por uma profissão é um processo que inclui várias etapas e envolve diferentes questões. Não depende somente de habilidades, mas de gosto pessoal, de identificações que estabelecemos com certas pessoas e/ou situações, de expectativas que criamos durante as diversas fases do desenvolvimento. O estímulo, na verdade, contribui muito com a questão da autoestima. Assim, se eu sou elogiado e reconhecido pelo que faço, passo a confiar em mim e provavelmente terei mais condições de ser um bom profissional na área que escolhi para me dedicar. Podemos pensar que mesmo aquelas habilidades desenvolvidas somente durante um breve período na infância ficam na memória como partes da história de vida. Elas vão se somando a outras habilidades, ou então até parecem ter sumido por um bom tempo, mas quando sentimos necessidade conseguimos resgatá-las. Características como as mencionadas acima: facilidade de se relacionar, de liderar um grupo ou uma habilidade manual são positivas em qualquer atividade que viermos a desenvolver. Portanto, se forem estimuladas, contribuirão com a formação pessoal e com o fato de conviver bem com outras pessoas.
AT – Na sua opinião, esse estímulo, quando não for forçado, contribui efetivamente para formação de adultos mais seguros e com objetivos de vida mais concretos? Em que medida?
Bernardete – Ainda em relação aos estímulos, é importante observar que eles não devem ser confundidos com excesso de expectativas e/ou exigências, principalmente dos pais para com os filhos. Muitas vezes os pais procuram desenvolver nos filhos habilidades que eles próprios não desenvolveram ou tentam resolver suas frustrações estimulando os filhos a vivenciarem o máximo possível de experiências, exigindo-lhes também o melhor desempenho nelas. Quando isto acontece e o filho não consegue corresponder, este pode sentir-se inferiorizado e formar uma imagem negativa a seu próprio respeito. Ele pode passar a acreditar que nunca será uma pessoa bem sucedida e, então, bloqueia possibilidades que poderiam estar ao seu alcance, sente-se inseguro para enfrentar desafios e superá-los. Acredito que, desde cedo, uma criança percebe a diferença entre um estímulo que tem o objetivo de levá-la a crescer como pessoa, um estímulo de quem acredita no seu potencial, e o estímulo que visa suprir a não aceitação dos pais de alguma característica própria da criança. Este estímulo forçado gera problemas enquanto que o estímulo positivo é sempre benéfico para a criança.