Cada mudança na vida de uma criança gera um período de adaptação, que será influenciada tanto pelo grau de importância desta nova situação como pela idade da criança. Mas e quando essa adaptação envolve o nascimento de um irmão?
Segundo explicação da psicóloga Cláudia Sbaraini, na situação específica da chegada de um irmão, a mudança irá alterar profundamente a vida do primogênito, pois toda a rotina da família mudará, sendo esta uma mudança muito significativa para a criança. Também a idade do primogênito pode influenciar muito: “Quanto mais nova for a criança, maior será sua dificuldade de assimilar essa mudança, pois a criança muito nova, principalmente a que tem menos de três anos, ainda é muito vinculada e dependente da figura materna, portanto, o novo nascimento pode significar uma perda para a criança. Em certo sentido é uma perda real, ela perde a atenção exclusiva da mãe, perde a exclusividade de atenção por todos, de um momento para outro ela precisa aprender a dividir, coisa que ela nunca precisou fazer.”
No entanto, a psicóloga ressalta que cada criança poderá reagir de maneira diferente a esta chegada: algumas regridem emocionalmente, querem novamente ser bebês, voltam a fazer xixi na cama, pedem para tomar mamadeira, para chupar bico, ou seja, querem voltar aos seus hábitos de bebê, como se essa fosse uma garantia de retomar a atenção de seus pais. Quando isso ocorre, toda tentativa de regressão emocional deve ser evitada pelos pais, pois não é isso que irá resolver a insegurança da criança: “ é importante que os pais possam encorajar a criança a seguir em frente, a crescer. Caso os pais sintam-se inseguros, culpados ou ansiosos, devem pensar que talvez seu primogênito só precise de um pouco de tempo para assimilar essa nova mudança em sua vida.”
Não sou mais o bebê da casa
De acordo com Cláudia, alguns comportamentos são até esperados e consideráveis saudáveis quando o novo irmãozinho chega, alertando que o contrário disso, quando a criança não expressa nenhuma reação é muito mais preocupante, pois internamente ela estará sentindo a perda, mas por não estar sentindo-se tão feliz com a chegada do irmão como todos ao seu redor estão ela poderá esconder estes sentimentos. “O importante é mostrar a ela que ela pode sentir, mas não pode ter atitudes agressivas com o bebê, este é o limite entre sentir e agir, podemos sentir o que quisermos, mas não podemos fazer tudo que temos vontade”, recomenda
A psicóloga explica que a rivalidade fraterna é algo comum entre irmãos, e nisto podem estar envolvidos sentimentos como raiva, ciúmes, competição e até tristeza. Nesse sentido, o papel fundamental dos pais nesta situação não é reprimir o que a criança sente, mas possibilitar a ela a compreensão de que sentir isso talvez não seja tão errado, e que com o tempo irá passar, para que aos poucos ela comece a assimilar que também pode ter um ganho em ser o mais velho: “As crianças entendem muito bem quando os pais explicam a ela as vantagens em ser maior, como poder brincar com os amigos, poder correr, não precisar da ajuda de tudo, ou seja, que ser maior dá a ela também mais liberdade de fazer as coisas. Dialogando e explicando que seus sentimentos são naturais, mostrando a ela algumas vantagens, fará com que a criança sinta-se liberada da culpa que ela sente por não estar tão feliz como todos ao seu redor estão”.
Irmão mais velho não é pai ou mãe
Vale também lembrar que futuramente quando os filhos vão crescendo é importante que o irmão mais velho não seja sobrecarregado de tarefas e responsabilidades, ele não deve ser o exemplo para o irmão mais novo e nem responsável por ele, pois isso pode se tornar um peso muito grande e criar um afastamento e uma frieza emocional entre os irmãos. É comum as queixas dos primogênitos em relação a isso, que sempre precisaram ser o que fazia tudo certo e o que tinha que ser responsável por tudo. Irmão mais velho não tem que fazer o papel de pai e mãe, e sim de irmão.
Alguns pequenos cuidados também podem ser importantes, como inserir mais a criança no cuidado com o bebê, pedir que ela ajude em algumas tarefas para sentir-se útil e importante, falar com parentes mais próximos para que eles tragam um presente simples para o primogênito também, com um chocolate ou até uma bala, algo simples mas que a criança também sinta-se felicitada e valorizada. Também contar histórias dos pais, como eles se sentiram quando o novo irmão nasceu, pois crianças sentem-se muito bem quando ouvem histórias dos pais e percebem que eles ou algum familiar também passou por uma situação parecida, isso gera alívio nela.
Por fim Cláudia recomenda a leitura do livro Agora sou o irmão mais velho, de Annete Sheldon ( Editora Artmed), enfatizando que basta aos pais entenderem que o que a criança está demonstrando com seu ciúmes é simplesmente medo. Medo de perder as pessoas que para ela são muito importantes.