Na semana passada, esqueci-me de enviar a coluna. Pedi a meu filho que localizasse o texto no computador e o encaminhasse à editoria do AT. O guri enviou um release do livro que nesta sexta-feira será lançado pela editoria AGE, “Pré-Devaneio”, em Porto Alegre. Peço desculpas aos leitores que não têm nada a ver com a pauta de um evento que ocorrerá em outra cidade. De qualquer maneira, estou feliz com o talento literário do Tárik, adolescente igual a tantos outros, mas que gosta de ler e escrever poesias e contos. De qualquer maneira, a coluna que não foi enviada falava – não a respeito dele especificamente – mas de toda uma nova geração que, apesar das novas tecnologias, do inacreditável mundo digital que se amplia, ainda sobrevive o livro, fiel companheiro de todo aquele que aceita a proposta da magnífica viagem literária.
Sou contra o estereótipo do jovem leitor: um cara esquisito, alienado do mundo exterior e sem disposição para a vida social, um “nerd” como chamam hoje. Meu filho é igual a qualquer outro adolescente. Não muito fanático por estudos, já adorou futebol e quis ser jogador profissional, jogou esgrima e agora curte games e música. Tem uma banda de rock. É fã de Beatles e da música dos anos 60. Mas ouve bandas atuais. Apaixonou-se, várias vezes, pela vocalista do grupo Paramore e tem todos os discos dos Los Hermanos. E namora bastante, porque um poeta sem paixão perde um pouco o sentido.
Então o que motiva esses jovens modernos que dividem o tempo entre a rede social e um livro antigo, meio mofado, de um sebo? O estímulo à realização de sonhos. E saber a hora certa para tudo. Antes dos brinquedos eletrônicos, ou junto, estimular o manuseio de livros. Olhar figurinhas coloridas, pintar e riscar, interagir com a literatura. Ele olha as figuras e alguém lhe conta a história. Ou o estimula a criar sua própria aventura com o que está vendo. Foi assim com meu filho. Quando escrever seu primeiro poema, talvez instigado por um tema da escola, elogie os versos, estimule mais. É assim que tudo começa.
O prazer de cada novo capítulo em bom romance é tão intenso quanto a satisfação de avançar a uma nova fase em um jogo de computador. Mas é preciso partir de um estímulo que venha a despertar ou um novo talento, ou um leitor apaixonado. A força renovadora dos jovens, a rebeldia é sempre melhor canalizada desta forma. Não faz muito tempo, a professora de português do Tarik pediu à turma que escrevessem uma redação em estilo livre. Sobre qualquer tema. Ele utilizou palavras de um português arcaico, buscou palavras que rebuscara em muitos livros – Machado de Assis, Manuel Bandeira e outros autores. Embora o texto de boa qualidade, gramaticamente correto, levou um zero da professora que, sei lá, achou um despropósito tudo aquilo. Levou como provocação, demonstrou falta de cultura e levou uma vaia da turma.
Desculpem, mais uma vez, por usar um exemplo doméstico. Mas acho que é importante estimular educadores, sejam eles pais ou mestres em escolas, a incentivarem a leitura entre jovens. Teremos gente com melhor vocabulário, com certeza, mas principalmente com muito mais cultura e humanidade.