O dia 12 de junho nunca mais será o mesmo para o arroio-meense Gustavo Bitdinger, 24 anos. Vai ser o primeiro Dia dos Namorados que estará acompanhado e, sobretudo, feliz. E alcançar essa tal felicidade não foi algo fácil para o rapaz que até bem pouco tempo não tinha perspectivas para a vida.
Há cerca de 10 meses nem Gustavo nem Roger Garcia, 23 anos, imaginavam que uma viagem mudaria seus destinos. Foi praticamente um dia dentro de um ônibus. O tempo necessário para viajar de Arroio do Meio a São Lourenço do Sul. Até então Roger e Gustavo eram apenas amigos, conversavam pela internet, mas nenhum sabia da condição do outro. Foi no primeiro encontro que perceberam que havia mais do que amizade entre os dois: estavam apaixonados.
As viagens entre Arroio do Meio e São Lourenço do Sul duraram oito meses. Cansado da saudade e da distância, Roger decidiu se mudar para a Pérola do Vale. Há dois meses, o cabeleireiro está estabelecido no Centro enquanto Gustavo continua morando com a avó, em Lajeado.
Agora os finais de semana são passados juntos, com direito a almoço em família na casa de Gustavo. “Fui bem recebido pela família do Gustavo. Hoje estou longe da minha família, abri mão de estar mais perto deles pra viver essa história e encontrei uma nova família que me recebeu muito bem ”, afirma Roger.
Mas quem vê os dois felizes não faz ideia do que tiveram que passar para chegar até aqui. Roger, com personalidade forte, encarou numa boa a sua condição homossexual. Na adolescência namorou uma amiga da mãe para despistar, mas quando a família soube da sua homossexualidade, e não aprovou, não teve dúvidas: saiu de casa. “Aproveitei para me tornar independente. Com o tempo a família entendeu e hoje tenho uma relação de amizade com minha mãe, encontro nela uma amiga e confidente”.
No caso de Gustavo, foi bem mais complicado. O rapaz teve uma adolescência e juventude de isolamento. Tinha dificuldade de relacionar-se com os colegas de aula, não tinha amigos. Não aceitava o fato de ser homossexual. Tinha medo da reação das outras pessoas, da família, da sociedade. Tanta era sua preocupação com os outros que chegou a namorar uma mulher. Contra a vontade, claro. Tudo para parecer “normal”. Tentou o suicídio por mais de uma vez e passou anos de sua vida acompanhado por antidepressivos.
Mas a viagem até São Lourenço do Sul trouxe novas perspectivas de vida. Hoje é um rapaz alegre, que ri com facilidade, que já não tem mais medo, é feliz. “Tinha medo do que minha família diria. Sempre brincavam que queriam netos, bisnetos sobrinhos e como dizer que não teriam isso? Não foi fácil, mas no final deu tudo certo e hoje elas e meu irmão me apoiam de uma maneira que nunca imaginei que ia acontecer”.
Cuidar da avó, o que há cinco anos tem sido seu ‘esconderijo’ do mundo, já não faz parte dos planos ao longo prazo. Com o apoio da família e de Roger, Gustavo está tentando se abrir para um mundo que desconhece. Como passou anos isolado não gosta muito de sair. Roger é festeiro e está se esforçando para ‘arrastar’ o namorado para as festas. “Ele precisa se divertir. Diz que não gosta, mas é porque nunca fez festa. Não aprendeu a se divertir”, comenta o jovem em meio a risos.
O casal diz que não tem sido vítima de preconceitos na rua e espera continuar assim. São discretos, não andam de mãos dadas ou se beijam em público. Não por considerarem isso errado, mas em respeito ao fato de que muitas pessoas não entendem sua relação. Não querem chamar a atenção, nem ser apontados na rua. Apenas querem o que todos desejam: ser feliz. E a dois.