Estava a pensar, eu com meus botões, vítimas do efeito estufa abdominal, sobre temas que escapassem da rotina destas crônicas semanais. Lá fora, no mundo real, tivemos o afastamento de um presidente em um impeachment relâmpago. O noticiário sempre chocante das CPIs, continua e ainda se repercutem as resoluções instáveis da Rio + 20. A rotina do medo nas ruas, onde a violência dos homicidas ignora os mutirões das polícias – é o que acontece em Porto Alegre – e inova em crueldade como em São Paulo. Lá, a nova estratégia criminosa é assaltar restaurantes e grandes eventos festivos privados. Ou seja, não podemos mais sair à rua para celebrar o pouco de alegria que nos resta, acompanhados de amigos, familiares ou à luz de velas, com nosso amor.
Esta coluna que circula em sextas, véspera dos sempre bem-vindos sábados e domingos (estes pelo menos até após o almoço). Encher a cabeça dos leitores com a rispidez cotidiana não é o mais indicado. Por sorte, acabei salvo por meu filho Tárik, que me apresentou o poeta português Joaquim Pessoa, também artista plástico e publicitário português que, até então, eu desconhecia.
“Por todas as razões e mais uma. Esta é a resposta que costumo dar-te quando me perguntas por que razão te amo. Porque nunca existe apenas uma razão para amar alguém. Porque não pode haver nem há só uma razão para te amar. Amo-te porque me fascinas e porque me libertas e porque fazes sentir-me bem. E porque me surpreendes e porque me sufocas e porque enches a minha alma de mar e o meu espírito de sol e o meu corpo de fadiga. E porque me confundes e porque me enfureces e porque me iluminas e porque me deslumbras.”
“Amo-te porque quero amar-te e porque tenho necessidade de te amar e porque amar-te é uma aventura. Amo-te porque sim mas também porque não e, quem sabe, porque talvez. E por todas as razões que sei e pelas que não sei e por aquelas que nunca virei a conhecer. E porque te conheço e porque me conheço. E porque te adivinho. Estas são todas as razões. Mas há mais uma: porque não pode existir outra como tu.”
Estes belos versos destinados a uma mulher, me levaram como todo texto inspirado, a refletir também sobre a vida, esta que também nos fascina e sufoca, mas que precisamos aprender a amar. Quem ama de verdade se dá ao respeito. Vai à luta, enfrenta bandidos e tem como arma uma atitude positiva. É assim que, embalados pelo mais puro amor, tiramos do esquecimento leis maravilhosas que temos neste país, sempre tão esquecidas ou mal-interpretadas.
A palavra quando sai no papel em forma de justiça e respeito ao próximo é uma bênção amorosa que impõe limites aos que abusarem da liberdade. E os castiga. Porque o contrário do amor é o verdadeiro risco, a verdadeira dor malévola. Merece punição ao arrastar consigo aqueles que, como nós, andavam em busca de seus instantes felizes. O bom da vida não é decifrar as estranhezas da pessoa, mas permitir-se a alegria da única conclusão importante, “não pode existir outra como tu”, muito bem dito, caro Joaquim Pessoa.