Querem um bom presente para o papai? Que tal permitir-lhe o direito de exercer a paternidade da forma mais verdadeira possível, por exemplo. A antropóloga e escritora Mirian Goldenberg escreveu sobre o tema no jornal Folha de São Paulo, no início da semana, “como uma homenagem aos pais” e alertou: “no centro do palco da maternidade, a mulher não quer dividir o poder e trata o homem como mero figurante”. A autora se diz perplexa diante da lei em vigor sobre a licença-paternidade que reserva ao pai apenas cinco dias para dar atenção ao recém-nascido, enquanto a licença-maternidade é aplicada por quatro meses. “Cuidar de um bebê é muito mais do que garantir a ele o aleitamento materno”, alerta, ao lembrar que os meses iniciais de contato necessários para que tanto o pai quanto a mãe estabeleçam com a criança o vínculo afetivo que será fundamental ao seu desenvolvimento emocional e social.
Cabe ao pai “ajudar” a mãe, considerada pela sociedade como a detentora exclusiva da arte de criar um filho. E lembro que no quarto de meu terceiro filho, acima do berço, jazia uma imensa foto da sua mamãe, ainda o levando na barriga, entre tecidos leves com ar de anjo. O pai estava aonde? Dirigindo o carro à maternidade, inspecionando a temperatura da sala, da mamadeira mais tarde. Um ajudante. Segundo a antropóloga, muitas mulheres vivem a maternidade como um poder que não se compartilha, portanto, nós homens, acabamos como meros coadjuvantes “ou até mesmo figurantes em um palco em que a principal estrela é a mãe e, depois, as avós, as tias, as babás e as empregadas domésticas.”
Assim, limitados a um papel secundário, acabam com a fama de imaturos, ausentes, irresponsáveis e incompetentes quando não entram com essa ajuda tipicamente doméstica. As meninas treinadas a serem mamães de suas bonecas reforçariam essa natureza feminina destinada à maternidade que acaba por empurrar os pais ao quinto escalão da relação afetiva com a criança? Segundo Gondenberg, não existe nada no jeito de ser masculino que o impeça de ir além e assim cuidar, alimentar, acariciar, acalentar e proteger seu filho.
E conclui a antropóloga: “se as crianças aprenderem que o pai e a mãe podem ser igualmente disponíveis, atenciosos, responsáveis, protetores, presentes e amorosos, é possível que, em um futuro próximo, exista uma maior igualdade entre homens e mulheres e a crença de que em nenhum domínio (público ou privado) um dos gêneros é superior ou mais necessário do que o outro.” Ou seja, caros leitores papais: se elas dizem que você é “atrapalhado” com crianças, prove que não é preciso um super-homem, um faz-tudo no lar, nem um semideus. Basta aceitar a paternidade com amor e devoção e exercê-la além do protótipo “natural” que nós mesmos, coartífices da família no formato que ainda impera hoje, ajudamos a estabelecer. Obrigado Mirian, me senti presenteado com tua opinião.