Li no jornal Estado de São Paulo, que um grupo de astrônomos encontrou evidências de que um distante planeta teria sido “devorado” por sua estrela, dando fôlego a hipóteses sobre qual poderia ser o destino da Terra dentro de bilhões de anos. Eles também imaginam que um outro planeta que ainda gira em torno dessa estrela poderia ter sido lançado a uma órbita incomum em função da destruição do planeta vizinho. Não estaremos aqui a bilhões de anos, mas igualmente a pesquisa impressiona. Afinal, se nosso destino é tão cruel, para que tudo isso?
Quem se interessar por mais detalhes científicos, basta conferir a edição de quarta-feira (22) do Estadão, sobre os detalhes do estudo, publicado originalmente pela revista científica “Astrophysical Journal Letters”. Em outras palavras, daqui a cinco bilhões de anos, poderemos ser engolidos por uma imensa bola de fogo, o Sol transformado em estrela vermelha, a levar bons e maus, anjos e demônios e tudo aquilo que construímos.
No mesmo instante em que lia esta assustadora previsão, imediatamente abaixo, em minha página do Facebook, a postagem de um site de futilidades nada científicas (que a maioria lê), destacava a foto de Vanessa Hudgens, jovem atriz da série “High School Musical”, a exibir lascas de seu bumbum, após o vento ter levantado o vestido. Estaria ela sem calcinhas? Ou trajava diminuto fio dental, especulava o texto. Quantos séculos levaremos para desvendar esse mistério? Ou amanhã, tal revelação não valerá mais nada, transformada em diminuta fagulha na constelação de astros não hollywoodianos? Bumbuns, seios fartos e gente disposta a exibir-se, não nos faltaram até sermos devorados pelo fogo que preveem os cientistas (já não bastavam os pregadores apocalípticos?).
Uns cuidam do sol, da natureza, das ciências, outros compram uma máquina fotográfica para cliques indiscretos em busca destes flagrantes pueris. Chego a pensar que nada mudará no Cosmos, logo após sermos engolidos pelo Sol. Diante destes extremos, penso que o melhor ainda é aproveitar os bilhões de anos que nos restam, para um convívio mais intenso e com foco nas coisas que realmente têm sentido. O que decididamente importa? A vida focada nos temas ultra-leves, ou o aprofundamento das questões existenciais?
À noite ao retornar para casa, em todo meu caminho, resplandecia a lua em sua fase crescente, amarela quase deitada no asfalto. Tinha um formato de embarcação, navegando entre as estrelas que conseguia ofuscar ao refletir a luz do agora ameaçador Sol. E percebi que aquele momento era muito maior do que a imagem do bumbum carnudo da jovem atriz e mais verdadeiro do que as teorias sobre as probabilidades de termos nosso planeta engolido por aquela estrela de fogo – antes tão amistosa e fonte de vida – daqui a bilhões de anos. Estar ali, aproveitando aquele momento exuberante, que dispensa a ciência e os pudores mundanos, dava sentido a tudo.
Guardei na alma a energia daquele instante, como fonte para os momentos de breu. Se um dia seremos engolidos, que tenhamos então produzido o melhor, o mais digno e mais efetivo em pensamentos e ações para justificarmos, minimamente, a instabilidade e brevidade da condição humana como conhecemos. “São demais os perigos desta vida” cantou Vinicius de Moraes. E aí é que está a graça.