Vale do Taquari – Os números são trágicos. Desde 2005, foram 487 mortes na principal rodovia da região. Nesse período, foram registrados 11,6 mil acidentes, que deixaram pelo menos outras 5.465 pessoas feridas. Excesso de velocidade, ultrapassagem em local proibido e desatenção de motoristas são os principais fatores apontados pela Policia Rodoviária Federal para o montante de ocorrências.
Em 2012, foram 73 mortes até o momento. Quatro a mais que o total registrado em 2011. Na última segunda-feira um ultimato. Em um único acidente, ocorrido por volta das 7h30min no quilômetro 257,2 da rodovia, entre Soledade e Fontoura Xavier, sete pessoas morreram. Quatro de uma mesma família, incluindo uma criança de seis anos e outra de apenas dois meses.
Conforme pesquisa do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), o excesso de velocidade provocou um terço das colisões que resultaram em morte no Rio Grande do Sul este ano. O estudo se assemelha aos números registrados pela Polícia Rodoviária Federal, de Lajeado. Segundo o Núcleo de Policiamento e Fiscalização da 4ª Delegacia, cerca de 35% das mortes na BR-386 estão ligadas ao abuso de velocidade em trechos perigosos. Ainda segundo estudos, muitas ocorrências foram registradas em trechos duplicados da rodovia.
Famílias dilaceradas
Duas famílias foram dizimadas em questão de segundos. Conforme apuração da Policia Rodoviária Federal, de Soledade, o acidente ocorreu após o motorista do Honda Civic com placas de Campo Bom, Jairo Martins Machado, de 31 anos, tentar ultrapassar um automóvel Voyage em local proibido. Ele bateu de frente em uma S-10, com placas de Santa Rosa.
O violento choque foi fatal para todos os ocupantes do Honda Civic. Além de Jairo, morreram seus dois filhos – Nicolas, de cinco anos, e um bebê de apenas dois meses – e sua esposa, Sandra da Silva, de 28 anos. Segundo informações, a criança morreu nos braços da mãe que estava amamentando a criança no banco de trás.
Outras três pessoas, ocupantes da S10 morreram. Segundo a PRF, faleceram o motorista Domingos de Oliveira Vargas, 66 anos, e as passageiras Isabel Portinho, 54 anos, e Natalia Kolling da Silva, 55 anos. Todos estavam vivos quando a equipe da SAMU chegou ao local, mas acabaram falecendo em seguida. Outro passageiro da S-10, Amauri José Pereira da Silva, 58 anos, sofreu lesões graves e foi encaminhado para o hospital de Passo Fundo.
Ainda segundo a PRF, o motorista do Voyage, José Carlos Porto, 36 anos, sofreu lesões leves e já foi liberado. Na quinta-feira, funcionários do SAMU que atenderam a ocorrência reclamaram de negligência por parte da Concessionária Coviplan. Segundo os médicos, a ambulância da concessionária foi chamada, mas não foi até o local. Para a promotoria, mesmo que o trecho não seja de responsabilidade da empresa, ela tinha a obrigação de atender as vítimas.
DNIT acena com proposta de duplicação
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no Rio Grande do Sul encaminhou, há cerca de um mês atrás, proposta de licitação para duplicar 170 quilômetros da BR-386, entre os municípios de Lajeado e Carazinho. Foi neste trecho que ocorreu o grave acidente da última segunda-feira.
Conforme a diretoria do DNIT no Estado, será de responsabilidade dos técnicos do departamento, em Brasília, finalizar o edital para contratação da empresa que executará o estudo de viabilidade técnica. Entre os itens a serem estudados, estão demandas como necessidade de viadutos, localização da nova pista, entre outros aspectos. Após esse levantamento, poderá ser lançado processo licitatório para definir a empresa que desenvolverá o projeto.
Integrante da Comissão Pró-Duplicação da BR 386, José Luiz Cenci mostra otimismo em relação às negociações envolvendo as obras do trecho. Lembra que as obras no trecho entre Tabaí e Estrela estão quase 80% concluídas. Diz que a comissão negocia agora emendas com a bancada gaúcha da Câmara dos Deputados para custeio do projeto técnico da obra, entre os municípios de Lajeado e Iraí. “Precisamos de R$ 15 milhões para o projeto, e depois tentaremos angariar recursos para custear a obra.”
Ele diz que a intenção é duplicar um trecho de 240 quilômetros, e que o valor da obra deve passar de R$ 1 bilhão. “Mas vamos por partes, duplicando cerca de 20 quilômetros por ano. Tentaremos recursos do PAC também.” Cenci afirma que a intenção é fazer com que o dinheiro dos pedágios também seja investido em duplicações. “Vamos exigir isso no momento da renovação das concessões. Precisamos pagar menos e ter mais retorno com os pedágios.”
Cenci lembra ainda que na década de 60 a produção média de sacos de milho por hectare era de 30 sacos. “Atualmente o número é superior a 130 sacos por hectare, e isso reflete na carga dos caminhões que utilizam a rodovia.” Ele comenta que antigamente os caminhões transportavam em média cinco toneladas. Hoje, ele acredita que muitos carregam cargas acima de 50 toneladas. “O peso aumenta em mais de 10 vezes, mas a estrutura da estrada é a mesma. É óbvio que do jeito que está ela não suporta mais.”