Desculpem se é notícia velha. Mas somente nesta semana li uma matéria da repórter Letícia Sorg, da Revista Época, sobre os malefícios de dormir na mesma cama, com alguém, todo santo dia. A matéria mostra uma linda foto de um casal ressonando tranquilamente de “conchinha”, o que segundo o especialista britânico Neil Stanley, da Universidade de Surey, é um total desconforto. Concordo em parte, pois comigo a tal concha dura alguns minutos, depois dói o braço, a nuca e se desfaz a imagem que parece tão bonita e confortável em filmes e comerciais de tevê. Stanley acrescenta: os casais que dividem a mesma cama sofrem, em média, 50% mais perturbações do que os “solteiros”.
A repórter cita seu caso pessoal. Tem um namorado que gosta de dormir sozinho, mesmo com o conforto das imensas camas modernas. E cita problemas como a disputa do cobertor, dos lençóis e dos roncos. E sem contar dos maridos e esposas que se mexem demais na cama, balbuciam palavras desconexas (algumas vezes conexas até demais!). Tudo isso atrapalha o sono. E uma noite mal dormida é sinônimo de irritação, cansaço e, conforme destacou a matéria, problemas graves como depressão, doenças cardíacas, derrames, distúrbios respiratórios e até acidentes de trânsito e no trabalho.
É claro que o pesquisador inglês dorme separado de sua mulher e nem por isso, deixa de amá-la, garante. Acrescenta que o costume de dormir na mesma cama surgiu com a revolução industrial e a urbanização da população. Muito mais pela necessidade de aproveitar o espaço, pequeno e caro, do que por romantismo e sugere voltarmos aos costumes da Roma antiga, onde o casal tinha uma cama que servia exclusivamente para o sexo. Na hora de dormir, cada um para o seu canto. Dependendo do casal, seria mais um objeto decorativo.
O que os ilustres leitores pensam? Cada um na sua (cama) resolve o problemas do sono? Confesso não ser o mais indicado para dar essa resposta. Durmo muito bem acompanhado ou sozinho. Uma boa cama, travesseiros corretos e lençóis sempre limpinhos e de boa qualidade, compensam os momentos ruins citados pelo observador bretão. Quem nunca acordou insone e viu que sua companhia também estava agitada? E de repente ficaram ali, simplesmente conversando, trocando ideias até o sono voltar? Muitas vezes, a conversa se encaminha para algo mais carinhoso e tudo fica ainda melhor. Dormir em camas separadas não permite essa intimidade, essa solidária parceria.
Conheci um casal que dormia, inclusive, em quartos separados. Ele roncava muito, reclamava ela. Viveram anos assim até o dia em que decidiram viver em apartamentos distintos. Ele no centro da cidade. Ela em um bairro próximo. Um exagero que acabou mal (ou bem, sei lá). No primeiro inverno, ela encontrou um vizinho, que não roncava, para dividir a cama. Simultaneamente, o marido conseguiu outra parceira que não se importava com esses detalhes. O pior era deitar-se só, dizia.
Em outras palavras, salvo problemas realmente patológicos, o bom mesmo é um casal juntinho. Na rua, na chuva, na fazenda, como cantava a música, mas principalmente no leito onde aprendemos a nos conhecer melhor, a desnudar toda a intimidade e dormir certos de que alguém nos quer próximos, mesmo com disputas de um cobertor que nunca é o ideal, às vezes está curto, às vezes aquece demais um lado e gela o outro. Nada que não se resolve, na maioria das vezes, na própria cama.