Olhou em volta e percebeu que não poderia ir mais à frente. Todas as propostas de trabalho, repentinamente, haviam sumido. A aposentadoria típica de uma brasileira comum, sem super-salários, sem poupanças no exterior, lhe permitia apenas pagar o aluguel, luz, água e a cesta básica. Nada de excentricidades. Excelente profissional, estava habituada com o trabalho autônomo. Mas as oportunidades andavam ralas. Todas as atividades remuneradas – de uma hora para outra -, por triste acaso haviam sido transferidas para o próximo ano ou definitivamente canceladas. O cheque especial estourado no banco. As dívidas a apertá-la.
Saiu da agência bancária, onde pagara o aluguel e olhou ao redor: tudo o que via era a nuvem úmida das lágrimas sem perspectivas. E foi no ápice do desespero que percebeu, vindo na direção contrária, uma ex-colega. Abraçaram-se e quando a outra perguntou como andava a vida, desabou! Que vida? Não suportava mais a pressão do cotidiano. Sempre fora uma guerreira declarada. Exemplo de sobrevivência, agora queria sua cota de sossego. Será que seria assim até o fim? Fizera tudo errado? Não tinha mais energia para tanto revés, confessou em seu desabafo.
As duas, embora vivessem próximas, nunca se cruzavam. Típico nas cidades dos apartamentos e grades. Mas aquele momento acabou decisivo para acionar uma corrente imediata de solidariedade. Sensibilizada, a ex-colega chegou ao trabalho e comentou a situação. Em questão de minutos arrecadou uma quantia razoável, produziu um imenso cartão de Natal carregado em mensagens de apoio e na segunda-feira passada, o entregaram.
Ela que se achava isolada, sem ter a quem recorrer, de uma hora para outra, tinha a certeza de não estar sozinha. De que a vida sofrida, injusta em muitos momentos, mas também feita de afeto e reconhecimento. Todos ali, de uma forma ou outra haviam se colocado em seu lugar. Alguns que nem a conheciam, mas sabiam o espírito natalino é justamente isso. Vai muito além da propaganda comovente das grandes redes do comércio.
O nascimento do filho de Deus, para os cristãos ou um voto de amor ao próximo para o resto da humanidade, seja qual for a orientação religiosa, esse período de estresse, de cansaço após um ano sempre difícil, não impede que se olhe, ao menos uma vez, para o lado para promover um ato singelo como este, ocorrido na vida real e por isso mesmo, muito mais intenso do que um filme institucional, feito sob medida para nos fazer chorar.
Ao seu lado, na porta defronte, pode estar a chance de se fazer deste, um Natal inesquecível para alguém. Tudo vai mudar. “Faça uma luz se acender. Basta você pensar e fazer por merecer. Inspire profundamente, embriague-se de cor, imagine intensamente que o mundo é paz, luz e amor. Se é o que deseja, o que o coração almeja, siga feliz, pois, que assim seja!”
(Mensagem de minha amiga, a jornalista Léa Aragón)