No fundo, às vezes nem tanto, todos têm um motivo, do tipo gordo, bochechudo e bonachão para entrar o Natal estressado ou melancólico. Em outras palavras, enfrentam a situação inversa de carregar uma espécie de Papai Noel, cheio de questões mal resolvidas, ou em fase de solução. E não me venham soar loas de que entregaram tudo na mão de Deus. Ora, se ele é o maior homenageado neste período, não tem nada a ver com nossa infinita capacidade de atrair problemas. Os erros são nossos e é feio entregar ao Todo Poderoso, questões pertinentes a essa complicada existência terrena.
Então, o que justifica a correria? Justamente no final do ano, quando todos estão com as baterias saturadas? Não vou entrar no discurso do consumismo e do sentido que se perdeu ao longo dos anos. Presentear quem se ama, abraçar um amigo oculto, lá na firma, quem sabe aquele que várias vezes tentou te puxar o tapete, na hora da promoção, tem tudo a ver com o sentido de solidariedade proposto pela data. Convidar aquela tia ranzinza, que vai reclamar do presente, da ceia, do barulho das crianças rasgando o papel dos presentes é um ato natalino. Sogras, noras, genros, maridos, esposas, casados, divorciados, de alguma maneira serão levados a trocar mensagens de Feliz Natal, e aí está a resposta.
Feliz! Essa é a palavra certa, cristã para os cristãos, conciliadora para os demais. Aquele que se recusa a um abraço e reclama do cinismo que o gesto representa, é o maior cínico de todos. Os Natais de minha vida eram assim: eu acompanhava as pequenas crises domésticas que, invariavelmente, chegavam ao seu topo na hora da ceia. Mas não me interessava se a tensão iria continuar no dia seguinte. O meu abraço era de perdão. Eu perdoava e também queria ser perdoado. Se as fofocas, as brigas por brinquedos, por ciúme ou qualquer outro motivo persistissem, teriam mais um ano para se resolver. Eu sempre insisti com a tolerância. E foi isso que me fez um sujeito empolgado com esse período.
Se para você Jesus Cristo não passa de um simples pregador, ainda assim ele falava sobre a essência de tudo, do amor ao próximo. Vamos nos aproximar mais então. À medida que os Natais passam, deixamos de ser aquelas crianças que pensavam exclusivamente em seus presentes. Amadurecemos, aprendemos a valorizar cada momento como esse, onde o mais importante é a reunião da família, independente do formato em que se apresente. O conteúdo é o que importa. E aí, os bons motivos para irritar-se com o Papai Noel, serão trocados por um único e vital sentimento de amor sem reservas. Onde as palavras nunca são ocas e, por mais cansados que estejamos, o perdão nos afaga como um bálsamo revigorador.