Quarta-feira passada estive em Rio Grande. A cidade portuária experimenta um crescimento acelerado em função dos imensos investimentos em sua zona portuária. As ruas antigas, estreitas, o antigo casario colonial português acolhem o desenvolvimento que sacode a economia local. A cidade vive um ritmo intenso de obras, melhorias e é aí que se deve cuidar para evitar uma neurose progressista que acabe tornando tudo um pesadelo. Exagero? Pode ser mais observei alguns detalhes que servem de alerta.
Por exemplo, os hotéis estão sendo ampliados e mesmo assim, ainda faltam cômodos para todos visitantes. Os preços subiram astronomicamente. Todos têm urgência em recuperar o tempo perdido. Nas ruas, é uma profusão de idiomas. Profissionais da área portuária, professores, turistas e estudantes misturam-se em busca de oportunidades.
Conversei com um empresário norte-americano enquanto lanchava, ao final do dia e ele, mesmo sendo estrangeiro percebia a ansiedade daquela comunidade. “Todos querem tirar algum proveito. Mas é preciso preparar-se sem angústia e afobação”, disse. Lembrou que os investimentos, em qualquer município dependem de projetos, pressão política e alguma tolerância, para as muitas idas e vindas até chegarem a um ponto em comum.
Talvez embalados pela cerveja gelada, ambos chegamos a conclusão que a posição estratégica de Rio Grande, naturalmente a transformará em uma cidade rica. A metade Sul vai aproximar-se da fartura conquistada pelo norte do Estado. Mas precisa preservar sua essência. Seria triste ver, aqui no extremo sul do país, a repetição dos erros de outra cidade portuária brasileira, a paulista Santos.
O evento em que participei, tinha essa disposição imediatista, uma cobrança por soluções urgentes e o fim da imobilidade que tanto prejudicou aquela cidade. Não lhes tiro a razão. Mas é preciso compreender que as respostas, tanto no mundo privado, quanto público, de nosso país, são lentas, talvez duplamente difíceis, mas só serão respondidas sem conflitos.
Vi uma cidade que se esforça em fazer a sua parte, mas repito, não pode vender a alma, ou pior, trocá-la por um progresso focado apenas em royalties. É preciso dar cultura, alimentar e resgatar a história para assegurar um futuro melhor, onde a ruptura seja exclusivamente com a miséria.