“Esse ano eu não recebo ninguém, tampouco vou à casa de amigos. Eu quero um início de ano feito a mulher do Príncipe Willian”, afirmou, com muita convicção, uma amiga. Ela justifica a rebeldia ao lembrar o estresse que representa organizar uma ceia, cuidar dos mínimos detalhes e aí, chegar na hora do brinde, feito uma autêntica gata borralheira, tirada também de um conto de fadas. Mesmo com a ajuda dos convidados a casa vira uma grande confusão. Assim, ela jura que comprará um pacote turístico para qualquer lugar onde lhe sirvam tudo: do café a champagne, como se fosse a própria réplica classe média da Duquesa de Cambridge, a elegante (e agora grávida) Kate Middleton.
Ela não escolhe lugar. Pode ser na beira-mar, ou no campo, o lugar não importa, o que está valendo é o servir-se de prazer e alegria sem precisar cozinhar, lavar e enxugar louças.
Concordo com ela. Mas é preciso antecipar-se, pois as reservas de hotéis costumam esgotar-se rapidamente nesta época do ano. Milhares de brasileiros pensam igual a minha amiga, e farão de tudo para dar adeus ao ano que se vai, com festa e parcelamento no cartão de crédito. Sair por conta própria, pegar a estrada e enfrentar longos congestionamentos é o lado perverso deste final de ano. Não tem nada de majestade, permanecer em rodovias que levam ao lindo litoral catarinense, enfrentando desaforos, poluição e um esgotamento físico e psicológico muito pior do que preparar um assado caseiro entre familiares.
Os aeroportos igualmente estarão lotados. Mas a coisa ainda assim, flui com mais naturalidade e ar condicionado. Tem lá seu glamour, dar entrevista para a tevê dizendo que é de-tes-tá-vel essa demora no embarque para Nova Iorque, Buenos Aires ou Porto Seguro. Reclamar que levou horas para fazer seu check-in, mas a vista do Porto de Galinhas, horas depois, salvou o dia. Viajar, ser servido com mordomias de realeza, mesmo que seja uma vez a cada ano, recarregam as energias. E quem não precisa disso.
No ano passado, fiquei entre amigos no final de ano. Foi divertido, mas igual a esta amiga, passei a tarde preparando pratos bacanas – afinal tenho mania de chef – e quando veio a noite, estava cansado. E no final da festa, ainda ajudei a arrumar o salão. Ficar em casa, sem convidados, também é muito chato. Olhar o foguetório na televisão, ou espiar a festa na casa do vizinho, não tem a menor graça. A menos que se faça com mais gente, amigos e convidados. Mas dá trabalho. O bom, o quase perfeito é a visão de garçons circulando, camareiras a deixar o quarto pronto para o casal imperial celebrar a virada (opa!) de ano e curtir, logo após, o sono dos justos. E no dia seguinte, o ano é novo e, se fui pobre, nem lembrarei mais (pelo menos até a chegada do boleto, mas aí é outra história).