Como você, leitora, agiria caso seu namorado tudo de bom – apaixonadíssimo – sofresse de uma brutal dificuldade em desvencilhar-se de amores antigos, ou muito pior, amigas do tipo “se-você-estiver-a-fim-também-estou”. Uma ex-colega – jornalista muito competente – me confidenciou o drama de acreditar na fidelidade do cara, mas não suportar vê-lo gentil e aveludado com, por exemplo, uma ex-patroa que, inconformada com a perda “de um funcionário tão competente, tão eficiente e bla, bla blá” para outra empresa, liga mensalmente com a desculpa de pedir conselhos, dicas profissionais.
Saem para almoçar e o tema, jura o namorado, se resume aos intrincados processos que “somente ele poderia resolver”.
Ao final de cada encontro, a bandida ainda diz que o deseja de volta ao escritório.
Tem ainda aquela amiga, empresária do setor do vestuário que mora na Serra. Inteligente, foi parceira dele nas horas difíceis. Tão solidária que certa vez chegou ao extremo de “presentear” o rapaz com preservativos em cores e sabores exóticos. Ele recusou, reclamou que não misturava as coisas. Não poderia levar a um motel uma grande amiga. Outra, bem mais madura, chegou a sugerir o empréstimo de um apartamento que “afinal de contas estava desocupado”. Assim poderiam ter mais “intimidade”.
Ele jura que se indignou com a proposta, mas manteve a amizade. Afinal, ela tem muitos contatos que sempre podem
ajudar nos negócios. O namoro prospera, me diz a ex-colega. Mas os almoços, as longas ligações com a antiga patroa continuam firmes. Ela tenta racionalizar.
Lembra a infância difícil do namorado. O relacionamento com a mãe não era dos melhores. Levava surras sem justificativa. Era tratado com desprezo. Pouco antes da morte dela, haviam se reconciliado.
Mas as marcas permaneceram. Talvez por isso não consiga livrar-se de relações que, de alguma forma, o levam a fantasia
de uma intimidade quase uterina, filosofa. As mulheres percebem e provocam – se fazem ora maternais, ora sedutoras, mas só Freud para explicar o conteúdo psicanalítico do problema.
A gota d’água, aquela que transbordou o pote de inconformidade aconteceu na semana passada. Ele sonhou que namorava a atual chefe. Andavam de mãos dadas! Detalhe: ele jamais dá a mão em público para essa minha ex-colega. Diz que é brega. A nova patroa – por sua vez – é uma mulher forte, dominadora. Ao contrário da anterior, não valoriza almoços de confraternização com funcionários.
Ele até se esforça para ser merecedor de reconhecimento e algum tipo de atenção. E nada! Quer ser talvez o funcionário especial. E lá se vai a pobre em fantasias, novas interpretações para a personalidade do parceiro. Bem que gostaria de alguém só seu.
Será que ambos não poderiam ter amigos comuns, como um casal normal? Ou antigos amigos sem misturas explosivas da sensuais segunda intenções? Os ex-namorados, os candidatos a amantes dela estavam no passado. Lá no fundo! Por que então, escolher um cara tão servil às mulheres?
Recomendei à minha amiga abandonar Freud e partir para a velha psicologia do “qual é a tua?” Exigir uma vida a dois de verdade, voltada para o futuro. Se não der certo, o melhor é dar um bilhete de ida sem volta ao homem que não sabe dizer não. Afinal, amor coletivo é como andar de ônibus na hora de maior movimento. Muito suor, muito aperto e conforto que é bom, nenhum. Qualquer coisa, desça na primeira parada.