A mídia não tem do que reclamar. Afinal, nem mesmo as campeãs do Carnaval, as vítimas do feriadão, ou as brigas do BBB13 não venderiam tantos jornais, não renderiam tanta audiência quanto o anúncio, feito assim, repentinamente, de aposentadoria do Papa Bento XVI. Vá lá que Joseph Alois Ratzinger, desde que assumiu, em 19 de abril de 2005, sempre deixou claro que temia por sua frágil saúde e seguidamente cogitava pela possibilidade de um substituto.
Este dia chegou, e depois do dia 28 deste mês, o 265º Papa se recolherá a um mosteiro de clausura. O último Sumo Pontífice a renunciar foi Gregório XII, que abdicou em 1415, no contexto do Grande Cisma do Ocidente (crise na Igreja Católica que aconteceu de 1378 a 1417). Antes dele, houve apenas cinco casos: Clemente I, Ponciano, Silvério, Bento IX e Celestino V. Foi o assunto do feriadão, tanto que pude pesquisar todos esses dados sem muito trabalho. Ainda hoje e até pouco antes da Páscoa, os católicos já terão um novo Papa, escolhido no conclave, reunião secreta entre 120 cardeais de todo – cinco brasileiros – e com menos de 80 anos. Bento XVI não participará da escolha. A vida vai seguir
seu rumo e, quem sabe, não deveríamos nos voltar com mais ênfase à discussão da fragilidade humana e às barreiras físicas e conceituais que nos limitam e nos enfraquecem.
Em outro hemisfério, a explosão nuclear tentava se justificar com a desculpa a defesa da autodeterminação da soberania da Coreia do Norte, acabou por deixar ainda mais isolado aquele país. Foi um terceiro teste contrariando a Organização das Nações Unidas e provocando a ira até de países aliados como a China e Rússia. Notícias fortes que, de alguma forma, nos levam a pensar, mesmo em dias de folia, sobre os perigos do cotidiano.
Volto a repetir que a história individual de cada um é parte, mesmo que em uma singela pincelada, da pintura que fazemos deste nosso século 21. O Vaticano dá rumo a sua nova missão, os delírios belicosos da pequena península asiática merecerão os cuidados necessários dos organismos internacionais e como a semana foi pequena poderíamos reunir nosso conclave doméstico e ver como anda o exercício da tolerância, como lidamos com nossas pequenas manias, neuroses e conferir se estas não provocam manchas nas virtudes que todos temos.
Vamos pensar que lá na Coreia um regime político totalitário pensa em explodir aqueles que declaram como inimigos, mas não temos nenhum registro de vítimas. Já aqui, em um país tropical, a lista de mortos no trânsito é provocada muitas vezes por gente como a gente. Que é simpática, parceira, não a quer sacrificar ninguém, mas não obedece leis. Na hora da punição, tem a seu lado um jeitinho sempre amigável para deixar tudo como está. Um puxão de orelhas que, embora não percebamos, provoca um abalo muito mais violento do que as prováveis vidas que seriam ceifadas pela bomba que não foi detonada.