Ao longo dos anos colecionamos amigos conquistados nas mais diversas fases da vida. Primeiro são os colegas de aula. Alguns poucos, devido à grande afinidade, sedimentam uma afeição que transcende o convívio dos bancos escolares. À medida que a idade avança fortalecemos parcerias na faculdade, no trabalho e ao longo da nossa atividade profissional.
Envelhecer significa assumir responsabilidades. Isso geralmente dificulta o reencontro de velhos companheiros. É penoso localizar e reativar contatos surgidos na juventude, embora as redes sociais sejam pródigas em facilitar esta busca.
Não raro deparo com reminiscências de situações remotas, mas que brotam como se tivessem acontecido ontem. São episódios com muitas décadas de idade que ficaram marcados, mas pareciam adormecidos eternamente. De uma hora para outra, porém, ressurgem em riqueza de detalhes que chegam, causam estranheza. Nestes verdadeiros flashes do passado vislumbra-se com nitidez pessoas do nosso afeto, amigos queridos que, ao longo dos anos, se perderam ou partiram irremediavelmente.
Quando isso acontece comigo, um misto de alegria e tristeza se mesclam em meio aos pensamentos. Há contentamento pelas lembranças festivas de traquinagens infantis ou aventuras inconsequentes da adolescência. Logo em seguida, porém, uma saudade dolorida me invade. “Por que não procuro este ou aquele amigo de outrora? Por que não fiz isso antes dele ou dela morrer?”, costumo pensar.
Velhas amizades são como fiapos que formam o mosaico da nossa vida
Introspectivamente um filme se passa em minha cabeça, estrelado por diletos amigos, parceiros de passagens que muitas vezes reproduzo neste espaço. Nesta semana soube que um velho amigo, Carlos Vicente Petry, se mudará “de mala e cuia” – como ele mesmo escreveu num e-mail – para o Rio de Janeiro na companhia de sua companheira, Carolina Wist, a partir de abril.
Como Vicente e Carola, outros tantos se extraviaram ou se espalharam por este Rio Grande de Deus ou por este mundão chamado Brasil. Com a partida se vão fiapos de minha história, referências catalogadas afetivamente ao longo de minha vida. Seria ótimo poder reunir todos não apenas no Facebook, mas fisicamente, através da mágica numa espécie de tele transporte que viabilizasse a junção de toda a galera.
Longe desta fantasiosa realidade este pensamento mágico deveria estimular a preservação dos amigos de hoje, além do fortalecimento das amizades pulsantes e presentes, evitando que estes entes queridos engrossem o mosaico de recordações.
O passado, às vezes, é implacável e amargo. Mas sem ele, o que seria de nós?