O maior desafio de qualquer profissional de comunicação é sintonizar com fidelidade o gosto do leitor, ouvinte, internauta ou telespectador com os conteúdos a serem veiculados. Os gostos, é claro, variam de forma dramaticamente. Principalmente pelas dimensões continentais do Brasil. Mas alguns temas são verdadeiros campeões de audiência.
O programa Globo Repórter, um dos líderes de ibope da Rede Globo, tem dois temas recorrentes: ecologia e alimentação saudável/dietas/regimes. A curiosidade em torno destes tópicos deve ser imensa, dada a frequência com que se repetem na telinha. Não é à toa que, segundo os especialistas a comida que a metade do mundo rejeita em decorrência de dietas seria suficiente para alimentar a outra metade que não tem o que comer.
Frequento muitos locais públicos em Porto Alegre – shoppings, praças e o próprio Centro da cidade –, mas jamais respondi a uma pesquisa sequer sobre minhas preferências televisivas. É claro que algum mecanismo para auscultar a preferência é empregado. Mas eu tenho a impressão que muitas vezes a insistência da mídia é que cria hábitos, manias, modas e comportamentos antes jamais imaginados pelo telespectador.
Na telinha a favela parece um lugar seguro e agradável. Muito diferente da realidade
Esta semana a Globo impingiu uma overdose sobre o Complexo do Alemão, conglomerado de favelas do Rio de Janeiro que até 2011 – quando o Estado instalou o Exército e a Polícia Militar no alto do morro – era um dos lugares mais violentos do mundo.
Além de ser um dos temas centrais da novela Salve Jorge, a megafavela foi pauta dos estudantes de Jornalismo capitaneados por Caco Barcelos no programa Profissão Repórter. O que me incomoda nesta publicidade by Rede Globo é a glamouralização dos morros, destes lugares em que notoriamente campeia o submundo das drogas e seus líderes sanguinários, além do contrabando de armas e dos descaminhos de toda ordem.
Inúmeras vezes tratei neste espaço do que considero hábitos nefastos criados artificialmente pelos meios de comunicação. Sou profissional da área há décadas, conheço a influência da publicidade e a consequente necessidade de “vender” para manter o negócio.
A banalização do adultério, o estímulo à preguiça, o pouco-caso com o trabalho e a exagerada valorização da sexualidade – especialmente pelo figurino dos protagonistas – são marcas registradas da novela brasileira. Fazer o que? É um dos principais produtos de exportação da televisão verde-amarela. E sucesso há mais de 50 anos dentro do nosso país…