Muitas mãos para ajudar, muitos olhos para guiar e pés à vontade – todos que forem necessários – para conduzir a vida a seus melhores propósitos. O começo parece difícil, uma jornada impossível, diante de tantos tropeços. A gente levanta, cai e se não agiu isoladamente é ajudado a seguir em frente. Segunda-feira passada acordei com um peso extra nas costas. As pressões cotidianas a empurrar para baixo. Dirigia o carro quase feito o piloto automático que atropelou a apresentadora do Mais Você, a Ana Maria Braga. Todos sabem os efeitos danosos do início da semana.
Foi quando ao parar no semáforo, aproximou-se de mim um dos tantos moradores de rua que pedem trocados, se oferecem para limpar o vidro com panos sujos e, antes de qualquer coisa, apenas olhou sério e, em tom filosófico, questionou: “Isso tudo faz sentido?”
Saiu gesticulando. Olhar fixo para o alto como se as respostas existenciais caíssem do céu, feito chuva ou meteoros. Saí dali com um esboço de sorriso no rosto, filósofos não precisam te deixar respostas. A mão encardida, a socar o ar daquele dia perfeito de sol, ajudou a aliviar a tensão. Aristóteles, o filósofo grego, pregava que o ser humano, na essência, nascera para ser feliz. E para atingir esse estado, precisava estruturar a existência de maneira facilitadora, ou seja, abrindo portas, ouvindo atentamente os que nos cercam e assim, manter-se atento e municiado contra os problemas que sempre nos cercam.
Quantos saíram como eu e atingiram o ápice da angústia agora, no final da semana? Escaparam de casa igual a bandidos – sem beijo na patroa, carinho nos filhos. Sequer olharam para trás. E assim agiram, não por necessidade profissional, mas para escapar talvez de questões vitais, decisivas, que os incomodam. Sentir medo, insegurança é perfeitamente normal. Errado é fugir do enfrentamento.
Outros, não deixaram o lar antes de saber se está tudo bem com os seus. As rusgas naturais do convívio, se não foram totalmente solucionadas, pelos menos, entraram na lista de coisas importantes que deixamos na porta da geladeira, talvez. E aí quando um mendigo te coloca em xeque, proteges tua alma com a garra dos que não se isolam. Dividem o sorriso para aliviar a própria angústia.