Aqui neste espaço já manifestei minha admiração pelas pessoas com coragem para aceitar o desafio de concorrer a prefeito. É uma luta inglória, a começar pela campanha eleitoral. Você, leitor ou leitora, consegue se imaginar batendo à porta de um empresário em busca de recursos para bancar a confecção de folhetos?
Meu pai foi vereador em Arroio do Meio sem direito a salário, o que considero correto. Não desconheço os inúmeros pedidos, de auxílios para compra de medicamentos para eleitores carentes ao apelo para a compra de camisetas, troféus ou rifas. Sem vencimentos, os vereadores teriam um argumento para não participar deste gesto de paternalismo típico de muitos eleitores.
Prefeitos são obrigados a périplos frequentes em Porto Alegre e Brasília. Voltam com a guaiaca vazia, mas com os ouvidos repletos de promessas. Na hora de prestar contas e conceder entrevistas relatam o que fizeram. Meses depois, a comunidade protesta porque nada saiu do papel. Culpa de quem?
A engrenagem que leva os recursos públicos até as prefeituras é um enorme ralo pavimentado de corrupção e pelo peso desproporcional da máquina governamental recheada pela necessidade de dar assento a milhares de apadrinhados. O atual governo federal é recordista na criação de ministérios para a acomodação de novos partidos criados para, em troca, ceder minutos no programa eleitoral da reeleição de Dilma Rousseff.
É mais fácil criticar o vereador ou o prefeito ao invés de exigir a contrapartida estadual ou federal
Na luta do rochedo contra o mar, os prefeitos lutam pela sobrevivência diária para dar resposta principalmente aos problemas de saúde. O que fazer se não existe um hospital próximo para urgências e emergência de média e alta complexidade? Ao providenciar o transporte para os grandes centros ele é acusado de estimular a “ambulancioterapía”. Acusação simplória, como se houvesse outra solução.
É raro ler na grande imprensa conteúdo sobre a demora na remessa das contrapartidas do governo federal. Enquanto este dinheiro não chega a prefeitura precisa bancar integralmente os custos para não interromper os programas.
Na última vez que estive em Arroio do Meio conversei longamente com o suplente de vereador Juarez Petry, um amigo de mais de 40 anos.
Temporariamente sem mandato Petry tem longa experiência política e conhece os sinuosos caminhos do dinheiro público.
– É um festival de promessas raramente cumpridas, tanto em Brasília quanto em Porto Alegre. E no final, tudo estoura nos prefeitos e nos vereadores que são acessíveis e vivem ao lado dos eleitores que cobram -, lamentou.
Ao invés de mandar um e-mail para o Palácio Piratini ou protestar em Brasília é mais fácil cobrar de quem mora ao lado e detém um cargo eletivo.