Quando a idade avança há sinais inequívocos que não podem ser ignorados. Nem falo das questões físicas, mas somente para ilustrar seguem em doloroso relato.
Recentemente saí numa sexta-feira com minha mulher para um bar em Porto Alegre. Fomos de táxi porque a gurizada lá de casa precisa de bons exemplos. Dançamos e bebemos até 4h da madrugada ao som de músicas dançantes da moda mesclado com sucessos dos Bee Gees, Tim Maia, Lulu Santos, Paralamas, Beatles, Eric Clapton e outros “da antiga”.
O dia seguinte foi doloroso. Aos sábados costumo fazer churrasco, mas já foi custoso levantar da cama porque a cabeça latejava. Num esforço gigantesco conseguir chegar ao supermercado. Para piorar a situação encontrei um casal de amigos que adora conversar. Foi uma tortura e tanto!
Durante o almoço lembrei o tempo em que emendava duas ou três noites na festa, sem dormir, trabalhando direto.
– Hoje preciso de dois ou três dias para me recuperar, sem falar que as sequelas são visíveis e dolorosas!”- resmunguei diante do sorriso irônico da minha parceira e dos filhos.
Outro sinal evidente dos tempos é a curiosidade em torno da árvore genealógica que nos gerou. Há cerca de cinco anos entrei em contato com uma empresa especializada na investigação dos primeiros descendentes de qualquer lugar do mundo. O custo da empreitada, porém, aplacou a minha curiosidade. Abandonei o assunto que agora ressurge.
Quando era jovem – e isso não mudou hoje – eu não cultivava estas preocupações. O importante era viver intensamente, postura que vislumbro dentro de casa. Meus filhos com personalidades tão diferentes têm, ao mesmo tempo, muitas semelhanças, embora frequentem cursos diferentes – Direito e Jornalismo. Cada um ao seu modo costuma citar aquela frase clássica e arrancar sorrisos de pais e mães:
– Hoje durante a aula lembrei de vocês!
A expressão é resultado de recordações de momentos vividos em família. Experiências que, a primeira vista, parecem normais na convivência de pais e filhos, mas que permanecem no subconsciente e afloram à medida que a gurizada amadurece.
Permanentemente penso que poderia ser um pai melhor, mais presente, menos rigoroso, mais amigo. Mas confesso – com orgulho – que ao ouvir a frase “pai, hoje lembrei de ti!” durante o chimarrão que antecede o jantar vejo que tive alguns acertos.
Experiências positivas são estimulantes. Procurar nossas origens serve para explicar muitas coisas que surgem no dia a dia. Lá, no passado remoto, está a explicação para nossas falhas e eventuais virtudes que os filhos – gentis e carinhosos – destacam no cotidiano.