Richard Swanson, um norte-americano de 42 anos, não tinha uma profissão burocrática. Era detetive particular. E por gostar de aventuras, buscava alguma distração para os intervalos entre uma investigada e outra. Foi quando conheceu o One World Futbol Project, que doa bolas de futebol duráveis para crianças em países em desenvolvimento. Abraçou a causa e foi atrás de patrocinadores para uma viagem, a pé, de sua cidade natal, Seattle (EUA) até o Brasil. Fazia cálculos de completar os 16 mil quilômetros deste percurso até o início da Copa do Mundo de 2014.
Na manhã de terça-feira passada, Richard foi atropelado por uma picape, na costa do Estado de Oregon. Ele, que ia à direção sul, não resistiu a violência do impacto e morreu. A bola que carregava foi recuperada e acredito que deveria se levada, de qualquer maneira para o Brasil e posta em leilão e com os recursos obtidos comprar-se bolas de futebol para instituições que lidam com a infância carente.
Fiquei triste não apenas por mais um acidente de trânsito, são tantos já tão frequentes que não prestamos a atenção devida ao jeito errático de condutores e pedestres nas trilhas deste mundo complicado. Me deixa incomodado a perda de um ser humano que buscava ir além do rotineiro, do comum. Tinha um sonho, por mais exótico que fosse, o realizava de forma objetiva e bem pensada.
Pessoas como Richard, são um exemplo para todos nós que cumprimos o plano básico, trabalho, estudo, lar doce lar, alguma recreação e o resto que se lixe. Buscar um diferencial, muitas vezes é o que dá sentido. Mesmo que seja caminhar carregando uma bola de futebol por milhares de quilômetros. Romper o círculo da rotina, da timidez é importante. Exercer a criatividade, vender um projeto – por mais maluco que possa parecer – pode estimular outros a se agregarem a iniciativa e torná-lo mais eficaz e visível.
Ops! Isso já está parecendo autoajuda. Só quero mostrar que sair da caixinha confortável do óbvio é sempre positivo. Com cuidados e sem riscos estúpidos, logicamente. Por exemplo, não sei se Richard não observou a sinalização de trânsito no local. Isso já não é ser aventureiro, mas desatento. Acontece que ele ganhou a mídia bem antes, ao anunciar sua caminhada.
Mas será que mesmo assim, um atropelamento na distante Oregon ganharia o noticiário internacional se ele se resumisse apenas a um detetive particular que bisbilhota coisas? Por isso, levanto um brinde especial a Richard e a todos que nos provocam com esquisitices como esta. Eles garantem o toque exótico do cotidiano, sempre tão rude. Vale a pena, mesmo que este cotidiano um dia também te atropele, como literalmente aconteceu com o caminhante Richard.