Já referi inúmeras vezes neste espaço a respeito da importância estratégica da duplicação da BR-386, antigamente denominada Estrada da Produção. Recentemente conversei com um repórter da Rádio Gaúcha, amigo de longa data, para comentar sobre os aspectos afetivos que envolvem as questões da rodovia na vida dos moradores do Vale do Taquari. Lembrei de inúmeros amigos, parentes e colegas de aula envolvidos em acidentes, muitos em ocorrências fatais resultantes do eterno vai e vem a Porto Alegre e Região Metropolitana da Capital.
Esta semana li com enorme tristeza que o impasse em torno da transferência da aldeia indígena encravada as margens da rodovia em Estrela mantêm o impasse para a continuidade das melhorias. Soube que uma única empresa habilitou-se a construir 29 moradias ao custo absurdo de R$ 10 milhões. Fiquei estarrecido com os valores, principalmente pelo fato do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) ter adquirido a área, de 6,7 hectares para abrigar o núcleo a ser implantado.
Diante do impasse, a licitação passará por uma atualização de valores e dentro de 30 dias uma tentativa será feita mediante a publicação na busca de interessados. Além deste item, o Ibama terá que emitir uma retificação da licença ambiental já emitida para a realização das obras que somam cinco quilômetros.
Defendo que todas as exigências legais e ambientais devam ser rigorosamente observadas, mas alguns casos devem ser tratados como emergência e analisados sob a lente da urgência devido à importância social e econômica que agregam.
A mobilização não pode esmorecer até a conclusão das obras de duplicação
Dados da Polícia Rodoviária Federal revelam que, somente de janeiro de 2007 a junho de 2011 ocorreram 1.992 acidentes na rodovia, provocando a morte de 71 pessoas. De lá para cá outros acidentes ocorreram, numa repetição funesta em decorrência de uma rodovia completamente superada em pista única.
O tráfego pesado, notadamente de carretas no período de safra, agrava os problemas já crônicos da BR-386, cuja duplicação é um sonho acalentado não somente pelos moradores do Vale do Taquari, mas de todos os motoristas que trafegam pelo trecho. A falta de solução na realocação da comunidade indígena é um exemplo concreto da falta de escolha de prioridades que assola o país.
No momento em que brasileiros de todos os quadrantes invadem ruas, e bloqueiam avenidas e rodovias em cidades dos mais variados portes, é preciso refletir sobre os rumos do país para pavimentar o futuro. O modelo burocrático, repleto de guias, laudos, pareceres e memoriais a serem preenchidos, pode ser preservado. Mas é preciso prever exceções. Do contrário, o massacre do trânsito em pontos críticos do nosso Estado se agravará dramaticamente.
O aspecto positivo deste embate reside na mobilização que se mantém em nossa região, através da união das lideranças dos mais diversos segmentos de forma incansável. Não podemos esmorecer!
A luta pela duplicação da rodovia mais importante do Vale só pode cessar quando a fita inaugural for cortada para dar lugar ao trânsito mais seguro, célere e organizado.