Um dos relatos mais dolorosamente tristes que ouvi, foi o do casal de bolivianos que assistiu o assassinato do próprio filho porque, assustado, irritara com seu choro, os ladrões que saqueavam o pouco que tinham. Os bandidos queriam mais e mais. A criança algum segundo antes lhes oferece algumas moedas que guardava no bolso. Mesmo assim, não foi poupada de um tiro fatal na cabeça. Não precisamos de filmes de horror. O cotidiano é criminoso, uma verdadeira aula em 3D do pior que a mente humana pode gerar.
Esses pobres estrangeiros fugiam da miséria em seu país, viviam aqui o sonho de uma vida melhor. Mesmo trabalhando de forma irregular para uma indústria de confecções (roupas que compramos muitas vezes em elegantes shoppings), tinham encaminhados a legalização. Enquanto esse momento não chegava, se mantinham expostos à violência, sem direito a assistência, sem poder abrir conta em banco. E esta precariedade os devorou.
Mais do que reclamar contra a FIFA, contra a ilusão do futebol, contra a falta de passe livre no transporte coletivo, temos de clamar, com toda a força de nosso peito cidadão, por educação para nosso povo. Educar gente é dar instrução suficiente para um mínimo de vida digna. Nas escolas, nos lares, as pessoas que recebem um mínimo de cultura, aprenderam a conversar, a discernir o mínimo sobre o que é certo ou errado.
Vivemos tempos medievais em plena era da nanotecnologia. Temos redes sociais ágeis, mas que atingem um número pequeno de pessoas. Esses poucos botam a boca no trombone contra os desmandos, os descasos de uma sociedade inculta, doente e viciada no desvio das normais que são boas, mas que poucos conhecem ou a sabem interpretar. É um universo ainda pequeno e que também, se ressente de cultura de vida, de uma vivência interior que vá além dos chips e se preocupe com a alma.
Eu queria tempo para escrever mais sobre amores, amigos e programas culturais. Chance de andar na rua sem medo. Ainda hoje, em Porto Alegre, dezenas de pequenos comerciantes protegem as vitrines de seus estabelecimentos com madeira compensada que, desculpem o trocadilho, os protege contra manifestantes descompensados.
Essas diferenças, esses medos, acabam sempre na questão da educação. O ensino sucateado, a família desestruturada, formada no susto, por gente que não estava preparada para gerir seu próprio destino, imagine o que farão com os filhos que colocarão no mundo.
Vamos bradar por escolas como aquelas onde se aprende a amar a vida. Além do A-B-C se encaminha valores básicos, sem cismas, sem preconceitos, mas centrada no respeito humano. Dessa maneira todos nós seremos realmente semelhantes e os que se assemelham, saberão conter àqueles que por má índole, insistem na egoísta e autoritária prática do mal. Desculpem se escrevi uma bobagem delirante, mas nunca estive tão pé-no-chão, como agora.