Eu sei que o tempo não perdoa. Os excessos que a juventude antes me permita, hoje são duramente castigados com dores no corpo e ameaças terríveis que podem deixar a vida bem mais difícil, ou encerrá-la definitivamente. Até mesmo os papas – vejam Bento XVI – pedem aposentadoria. A diferença é que cuidar do corpo e da mente, nestes novos tempos, não significa uma aposentadoria caquética, mas um tempo para outras atividades que mantenham a mente ocupada, a alma feliz e o corpo protegido. O Papa Emérito agora medita recolhido para estudos sobre a Igreja. Um trabalho intelectual importante. O argentino Francisco, seu substituto, que também é veterano, tem vigor de menino e cumpre seu papel com eficiência, e energia. Provou isso essa semana, no Brasil.
O que nos diferencia no tratamento com os velhos, nos dias de hoje? Com certeza não são as expressões do tipo “melhor idade”. A palavra “idoso” vem de idade, mas tem uma conotação que segrega. Não considero meus 60 anos a “melhor idade”, no sentido do vigor que se vai, mas uma vantagem, com certeza, no quesito amadurecimento. Mas como tem muito velho com mentalidade infantil por aí, eu definitivamente não acredito nestes eufemismos. Coisa bem cínica. Dói tudo, os joelhos exaustos do sobrepeso, os músculos exigem menos sedentarismo – corpo de velho precisa de movimento – e ainda estou a pagar, literalmente, pelos erros cometidos na juventude afobada que tive. Minha alma sim está mais leve, mais bonita. Vê o mundo com a tranquilidade que nunca tive.
Tenho certeza que é essa leveza espiritual que move velhos ídolos dos anos 60. Mick Jagger, nesta sexta-feira completa 70 anos! Ringo Starr, baterista dos Beatles já vai pros 72! E está firme, dizendo que os tambores são a sua “loucura”. Assisti Paul McCartney em Porto Alegre, um guri aos 68 anos, tocando por três horas seguidas e levando o público às lágrimas de pura emoção. No Brasil, Caetano Veloso reclama das dores da idade, mas tornou-se um poeta menos preocupado com a fama e mais concentrado na musicalidade de seus versos do que as caras e bocas do passado. Gilberto Gil, Chico Buarque de Holanda, Paulinho da Viola, são mestres e ainda lotam teatros. A arte, quando autêntica é elixir da juventude.
Retomo a pergunta: o que nos faz diferente dos velhos de antigamente? Fundamentalmente, fomos retirados da redoma de falsa proteção e adoração que nos mantinha enclausurados nos mais terríveis covis do tempo. Minha bisavó Rita, era cercada de cuidados. Não deixavam a pobre velha fazer nada por ser… Velha. Como se a idade avançada a tornasse um bibelô trincado pelo tempo. É claro que ela morreu encurvada, paralisada pelo excesso de ajuda. Todo esse cuidado com os anciãos de outrora, também cansava os mais jovens que lá fundo, às vezes nem tão fundo assim, consideravam seus velhos um estorvo.
O século 20 passou rápido demais. Novas tecnologias, a vida urgente, compromissos, a indústria, o comércio a exigir mais e mais do corpo. Tudo virou negócio e, quem cansava mesmo aos 40, tornava-se dispensável. Hoje, no século 21, aos poucos, percebemos a diferença gritante. Velhos são os que não têm luz própria, que se focam em um único objetivo. Esses consomem toda sua energia no estalar de dedo que representa uma existência.
Nós, veteranos modernos exigimos respeito. Mas nunca a reverência cínica dos que nos queriam mandar para um asilo. Hoje nós decidimos ir ao asilo como forma de seguir produzindo, aposentados do trabalho, mas nunca da vida. Não precisamos ser úteis, mas nunca inúteis trastes. Os velhos passam a ser fonte de consulta, de lições de vida. Mick Jagger, quando sobe ao palco, mostra que a vitalidade está no espírito, que lhes ensinou a domar a rebeldia, mas nunca sufocá-la. Cada show destes veteranos é uma aula de resistência, de amor a vida! E quem ama, eterniza-se. Por isso, iremos ao infinito e além!