Minhas incursões pela política renderam muitos amigos, milhares de quilômetros rodados e um sem-número de causos. A diversidade cultural do Rio Grande do Sul, motivo da pujança gaudéria, rende episódios pitorescos que guardam características próprias de cada região. Algumas curiosidades, no entanto, podem acontecer em qualquer lugar da Província de São Pedro.
Em minha última passagem como Assessor de Imprensa da Presidência da Assembleia Legislativa – em 2007 -, o Dia Internacional da Mulher rendeu mais um hilariante episódio que guardo na memória com detalhes. Parece ter saído diretamente do seriado O Bem-Amado, novela que depois virou seriado e filme em que o personagem de Odorico Paraguaçu – na tevê vivido pelo ator Paulo Gracindo – conquistou o público pelos termos e expressões pitorescas… do tipo para “lavar e enxaguar a alma”.
Naquele ano, na Assembleia Legislativa, a fim de agradar as mulheres o então presidente deputado Frederico Antunes chamou uma das deputadas para presidir a sessão solene alusiva à data. Pouco afeita às letras, a parlamentar recebeu o vocativo (relação de autoridades a serem citadas) e começou as citações.
Naquele dia, a relação de autoridades citadas parecia não ter fim
Refestelada na cadeira de espaldar mais alto da Mesa Diretora, bastaram alguns minutos para ela uma saraivada de risos da plateia. E não foi à toa.
– Gostaria de chamar a ilma senhora fulana de tal… o ilmo senhor fulano… além da ilma senhora beltrana… – disparou a deputada.
Enfurecido, o chefe do Cerimonial chamou discretamente a atenção da deputada, ao pé do ouvido. Ela, porém, estava tão envaidecida com a honra de presidir o Parlamento gaúcho que ignorou os apelos do subordinado. Depois de chamar mais da metade das autoridades convidadas, o responsável pelo vocativo, visivelmente irritado, arrancou o microfone da parlamentar e sem papas na língua disparou:
– Por favor, deputada! Não é “ilma” nem “ilmo”… a senhora deve dizer “ilustríssima” e “ilustríssimo”! – explicou quase aos berros
Ela não se fez de rogada e ainda justificou:
– Olha… não me enche! Estou apenas lendo o que TU escreveu aqui. O erro foi teu! Não me culpa e volta pro teu lugar! – explodiu a deputada.
E foi assim, entre muitos risos e algumas vaias da plateia, até o final do interminável vocativo que, naquele dia, parecia maior que nunca. Afinal, o documento estava repleto de ilmas e ilmos.
Mais causos e curiosidade em http://gilbertojasper.blogspot.com.br/