Jovens suicidas, jovens depressivos. A fase mais bonita da vida – apesar das incertezas e medos – mas tão rica pela surpresa do novo e a possibilidade de mudança, acaba desperdiçada no desencanto depressivo. Quase inacreditável em um mundo onde quase tudo pode ser diagnosticado, remediado ou mantido sob controle. Fico abatido quando vejo tantos guris e gurias a sofrerem de forma tão intensa que chegam ao absurdo de atentar contra a própria vida. No início da semana, o ex-baixista da banda Charlie Brown, cometeu suicídio. Leio nos jornais que Champignon, como era conhecido, sofria muito desde a morte do parceiro de banda, o vocalista Chorão, por overdose de cocaína (outro ato suicida). Ele não soube abrir os olhos para as coisas boas que permaneciam, como as canções, os fãs, e família e esposa, grávida de cinco meses. A depressão deixa suas vítimas cegas, surdas e mudas. Cria uma capa egoísta – eu sei bem, porque muito lutei contra a depressão – onde parece que a dor do mundo se concentra em si e diante de tanta e injusta aspereza, chega ao extremo de querer a morte.
Na minha adolescência, ainda existiam alguns desses médicos da família. O tipo que valia a pena se chamar de “doutor”, te ajudava contra os males do corpo e ainda receitava sábias dicas quando a dor era na alma. Um destes profissionais, certa vez me sugeriu que toda a vez em que estivesse “pra baixo”, levantasse a moral escrevendo sobre coisas bonitas, positivas. No princípio era doloroso exaltar o sol, quando eu me sentia coberto de nuvens negras. Mas na rua o dia lindo acabava vencendo. E se fosse tempo nublado, chuvoso, me forçava a buscar a beleza que se escondia na água que rolava da calçada, lavava os paralelepípedos (que palavra imensa!) e realçava o verde das árvores, dando um ar poético, mas não melodramático ao cotidiano.
E assim, fui enfrentando as adversidades, os monstrinhos dessa tristeza que surge do nada, ou às vezes de uma situação trágica, mas que deve ser enfrentada, porque essa é a nossa missão. Acho que tanto os jovens músicos do Charlie Brown cantaram temas bacanas, que talvez tenham esquecido sua própria mensagem. Sempre gostei, por exemplo, de ouvir “Dias de Luta, Dias de Glória” que eu classificava como um hino à resistência ao afirmar “quanto mais a gente rala, mais a gente cresce (…) Com a cabeça erguida e mantendo a fé em Deus, O seu dia mais feliz vai ser o mesmo que o meu. A vida me ensinou a nunca desistir, Nem ganhar, nem perder mas procurar evoluir. Podem me tirar tudo que tenho, Só não podem me tirar as coisas boas que eu já fiz pra quem eu amo.”
Impressiona, não é? Então, sejamos aqueles que enfrentam todas as batalhas, que não são poucas, para vivermos também dias de glória. Vamos buscar, além da nossa imagem no espelho, aquele “eu” que busca sempre o entendimento, que não vai sucumbir diante das maldades alheias, dos pensamentos turvos, dos contrapés que aplicamos em nós mesmos. Se a dor é química, tem remédio, para tratar. Se a dor é do espírito, tem sempre alguém para te escutar. E tirar lá do fundo, com total entrega, mesmo nas manhãs frias que antecipam à luta, a canção do Charlie Brown que concluía sabiamente: “Hoje estou feliz, acordei com o pé direito. E vou fazer de novo, vou fazer muito bem feito!” Isso vale para até para os jovens como eu, que já acumulam mais de meio século. Um sábado de luz, um domingo tranquilo e uma semana de luta, boa luta para todos!