É errado, um equívoco injustificável, uma perda de tempo. Um desperdício de imaginação. Mas é inevitável. Aos 53 anos não canso de comparar situações da minha juventude com a atualidade onde tudo é permitido, estimulado e perdoado.
Exemplo clássico desta revolução é o namoro, tão antigo que o termo foi arquivado. Ficar, curtir são expressões atuais. Somente “jovens há mais tempo”, como eu, recordam de como era gostar de alguém a ponto de se submeter situações a hoje inimagináveis. Ou de adoecer quando uma relação se rompia.
Conheci minha mulher na faculdade. Ela morava em Porto Alegre. Ambos eram comprometidos, mas logo nos apaixonamos, mas isso não era o suficiente. Um conjunto de provas me aguardava para testar minhas sérias intenções. Depois de flertes à beira mar em Cidreira fui obrigado a encarar o futuro sogro olho no olho para pedir licença para namorar oficialmente. Lembro com clareza daquela noite de sábado de março. Mãe e filha se refugiaram na cozinha, estrategicamente posicionadas porque somente eu podia vê-las.
Temas banais fluíam normalmente, mas a dupla à beira do fogão fazia movimentos labiais claros: “Pergunta de uma vez!”, repetiam. Tomei coragem e obtive o salvo-conduto para “namorar dentro de casa porque minha filha é uma moça de família”, como decretou o patriarca.
Meu jovem cunhado era companhia em todas as ocasiões. Das idas ao supermercado às visitas a Arroio do Meio. Hoje rimos das lembranças, mas na época a vigilância permanente incomodava. Era impossível subornar o guri afim de afrouxar o policiamento.
Quanta diferença, heim? Hoje, no almoço dominical, sou seguidamente surpreendido pela presença de jovens com cara de ressaca que entram pela sala e disparam. – Oi, tio! Sou o (a) fulano (a), e aí, tudo?! A adaptação não é fácil. É complicado absorver tamanha mudança. Talvez tenha se passado de um extremo ao outro com desconcertante rapidez. No meio desta revolução nós, pais, às vezes soçobramos. Afinal, quando finalmente conseguimos decorar o nome do (a) felizardo (a) novas personagens invadem nosso cotidiano trazidas por nossos filhos.
Volta ao “tempo do epa”. Depois de várias provas de amor, fidelidade e “boas intenções”, chegava o momento de “pedir a mão da moça”, em ocasião previamente acertada entre as famílias. O compromisso público, mediante o uso de uma aliança dourada na mão direita, raramente era rompido, sob pena de eterna desgraça para a pobre moçoila.
Estes rituais sobrevivem apenas em amarelados álbuns de fotos que vertem lágrimas de provectas senhoras. Assim como a máquina de escrever, o namoro saiu de moda. Deu lugar à infindável rotatividade de afetos que, por vezes, confunde
sentimentos, propaga solidão e incentiva a falsa imagem de euforia permanente.