Entre tantos sonhos que acalento, comprar uma casa é um dos mais antigos. Moro há décadas em Porto Alegre onde a decisão de abandonar um apartamento esbarra num obstáculo quase intransponível: a segurança. Cidades de médio e grande porte oferecem basicamente duas opções para os interioranos que pretendem voltar a pisar em terra firme ao invés de viver nas alturas dos edifícios.
Existem os condomínios, cuja proliferação oferece alternativas para vários bolsos – quase todas de alto custo – ou adquirir um imóvel mais distante dos aglomerados. A primeira hipótese envolve despesas vultosas, como o custo do condomínio e a necessidade de serviços permanentes de manutenção. Outros aspectos a ponderar envolvem a privacidade que em muitos casos é quase nula em consequência da proximidade das residências.
Já a decisão de comprar uma casa longe da agitação esbarra num problema crônico que há muito deixou de afligir apenas os grandes centros urbanos: a segurança. Minha mulher repete que, se eu assegurar a presença de um batalhão inteiro da Brigada Militar 24 horas por dia aceita mudar de ideia. Refratária ao projeto de sair do nosso amplo apartamento em que moramos, ela costuma comentar enfaticamente casos de furto e roubo a residências veiculadas na mídia.
Andar descalço na grama, lavar o carro de mangueira nos finais de semana, regar as plantas no verão, dar liberdade
para nosso cachorro maltês correr livremente e tomar um chimarrão ao final da tarde emoldurado pelo pôr são imagens que me fascinam.
A gradativa saída dos filhos que a cada dia permanecem mais fora de casa com amigos ou no trabalho criou uma espécie de “ninho vazio”, desprovido da agitação diária. Nos finais de semana é comum a presença de colegas de faculdade que subvertem a calmaria para beliscar um salsichão, devorar uma picanha e trocar ideias sobre o cotidiano da gurizada.
Frequentemente sou invadido por imagens do tipo flash back ambientadas na casa onde nasci e cresci. Se localizava no bairro Bela Vista, há poucos metros da indústria de bebidas Kirst & Cia. Ltda, onde meus familiares trabalhavam. Além de um grande pátio, das inúmeras árvores frutíferas cultivadas por meu pai e dos incontáveis animais domésticos sob os cuidados da dona Gerti Jasper, tínhamos um potreiro para nossas aventuras contra inimigos imaginários.
Talvez estas reminiscências conservem o sonho de morar numa casa. Não tenho a mínima vocação para carpinteiro, jardineiro ou administrador. Mas viver é sonhar, é traçar objetivos permanentes para viver fim de viabilizar estes
projetos. É assim que buscamos combustível no emprego, na convivência familiar, no contato com amigos e com os olhos voltados ao futuro. Sempre embalados pelas recordações de um pretérito inesquecível.