Passei a maior parte da minha juventude (ok… nasci em 1960!) viajando de carona. Mochila nas costas e dedão em pé, perdi o número de vezes que rodei pela BR-386 – à época conhecida como Estrada da Produção – e pela free way, apelido da BR-290, inaugurada em setembro de 1973. Naquele tempo era possível acolher um estranho sem sobressaltos, bem diferente do que acontece atualmente.
Junto ao acostamento da Avenida Castelo Branco, na saída de Porto Alegre, uma legião de cabeludos buscava motorista de coração bondoso, dispostos a ajudar a gurizada sem grana e sedenta de aventuras. A cada sábado era preciso acordar mais cedo para driblar a concorrência porque a “moda dos caroneiros” se espalhava rapidamente. Viajávamos em dois ou três amigos e jamais fiquei sem carona.
Uma das primeiras viagens feitas “no dedão” foi a bordo de um Fusca branco, reluzente, novo. Éramos três mochileiros arroio-meenses. Ao pedir carona notei que o motorista era educadíssimo, de fala macia e gestos delicados. Tomei a frente para me acomodar no banco de trás, junto com outro parceiro. O terceiro parceiro, faceiro por sentar ao lado do condutor, era do tipo brucutu, metido a machão, gostava de uma briga.
Durante todo o trajeto, cumprido em pouco mais de uma hora até o centro de Tramandaí, o motorista manteve a mão sobre a coxa do meu amigo sentado ao lado, tremendamente constrangido. Mal o carro parou na Avenida Emancipação e o caroneiro desembarcou num pulo para fora do Fusca. O affair rodoviário rendeu um final de semana inteiro de muitas gozações.
Motorista loira proporciona uma viagem com muitas emoções!
Em outra carona, no retorno de Tramandaí – praia mais agitada da época – corremos sério risco de vida quando uma vistosa caminhonete Ford cabine dupla “cantou pneu” ao parar. Imediatamente pulamos para dentro da carroceria fechada, ainda mais que a motorista era uma linda e jovem loira.
Estranhei o fato de rodarmos pela chamada “estrada velha” da praia onde o sonho de Santo Antônio da Patrulha era a principal atração, ao invés de usufruir da modernidade da free way. Comentei em voz alta minha dúvida e o avô da motorista se apressou para explicar:
– A Lurdes aprendeu a dirigir faz pouco tempo. Ainda não tem carteira de motorista e tem muito medo de ser parada pela Polícia Rodoviária…
Confesso que a viagem foi emocionante! Repleta de freadas bruscas, ultrapassagens cinematográficas e manobras bizarras que faziam a bagagem voar sobre nós. Viajei com o coração na mão e um cachorro no colo que rosnava a cada “barbeiragem” da loira condutora.
Mas como carona é uma viagem de graça.