Não me diga que saiu de moda. Jamais, caro leitor, afirme que é vulgar. Por favor! Não seja preconceituoso, não banque um mero arquivista da beleza tatuada, naturalmente, nas fornalhas de areia, grama ou laje, dos mais remotos cantos deste velho mundo de tantos verões. A marquinha do biquíni é uma espécie de efeito posterior, daquela apaixonada oferenda de corpos femininos aos efeitos do deus Sol. Agrada tanto a elas, quanto a nós, homens. Os estilistas franceses que disputavam o título de criadores do biquíni – Jacques Heim e Lois Réard – lá nos idos de 1946, destacavam o potencial revolucionário da minúscula peça que cobria apenas o busto e as partes baixas da mulher.
“É o Atome” anunciou Jacques, referindo-se ao primeiro teste de bomba atômica feito pelos norte-americanos naquele mesmo período. Foi realmente uma bomba à época. O avô dos biquínis atuais era imenso, comparado aos padrões de hoje, mas mesmo parecido com uma colorida calçola de vovó, certamente provocou, naquele histórico verão, o efeito sexy da deliciosa marca na pele de ruivas, de loiras, de morenas e de negras.
Defendo a tese de que as mulheres perceberam que o efeito mais devastador, não estava no diminuto tecido estampado em cores vivas, mas no contraste entre o tom natural da pele e o bronzeado. Por exemplo, Brigitte Bardot causou furor com seu biquíni xadrez no filme “E Deus criou a mulher” de Roger Vadim. Ursula Andress, de biquíni em uma passagem do filme 007 contra o Satânico Dr. No, de 1962, tornou-se musa eterna.
Mas se perguntassem a Roger Vadim, na época marido de Bardot, ou a Bond, James Bond, qual imagem levariam para toda a vida, a resposta seria única: a marquinha, delicada e sensual do biquíni na pele de suas musas. E foi esse detalhe que ajudou a vencer medos, romper preconceitos e transformou o biquíni, definitivamente, em instrumento de malícia e sensualidade. As mulheres brasileiras que o digam.
Sem dúvida, foi a marquinha do biquíni – uma simples diferença de tons carnais – que tornou um fracasso o “topless”, criação do designer de moda norte-americano Rudi Gernreich, que ainda nos anos 60 polemizou ao excluir a parte superior do biquíni. As brasileiras detestaram. Poxa, ele reduzia a área de atuação da marquinha que, afinal de contas, combina com todo tipo de busto. Nos dias de hoje, os mais variados modelos de biquíni resistem bravamente – tanga, asa delta e especialmente no Brasil, o mínimo fio-dental – e sabem por quê? Permitem aquela sedutora marquinha.
É ela que dá luz à imaginação, que complementa o vestuário, ao combinar com cangas, para circular na praia, ou mesmo roupas do cotidiano. Lá estão elas, jovens ou maduras, lindas, de volta do veraneio. Sem biquínis, é lógico. Mas vestidas de tal forma que permita a turma do escritório, perceber a fina tira branca gravada na pele, como anúncio de que o verão e seus prazeres gozosos permanecessem em seus corpos. A marquinha do biquíni vive!
Sim, resiste ao outono, atravessa a Páscoa das coelhinhas sapecas e, dependendo da insolação e da qualidade do bronzeador, ainda provoca algum efeito sob o frio inverno, que de alguma forma, se torna um pouco mais quente. Então, gurias, caprichem nas marquinhas. E depois, com ou sem biquíni, a festa estará garantida.