Estava tudo pronto para uma noite de sábado especial. Era a primeira vez que receberia a nova namorada, a Carminha – que passara pela fase dos olhares e do “ficar” e possivelmente, estava pronta para ir além. Para tanto, Renato caprichou na janta: filé de linguado, um delicado purê de maçãs e arroz com ervas finas. Ele queria pratos leves e afrodisíacos temperados com raspas de gengibre. As receitas ele pegou comigo. Assim como a dica de um chá a base de flores de coroa-de-cristo, com sementes de guaraná e de um arbusto chamado fava de Santo Inácio, originário das Filipinas e que eu adquirira no mercado público de Porto Alegre, e é famosa por seus efeitos estimulantes. “Nunca me preparei tanto para um jantar”, me garantiu o guri.
Segundo previa, o gengibre “aqueceria” a namorada, o espumante, abriria as portas das mais excitantes fantasias e o peixe, grelhado na manteiga, garantiria a energia para uma madrugada plena de paixão. Tudo foi perfeito até o primeiro brinde e as garfadas do jantar, feitas entre sedutoras trocas de olhares. Ela elogiava os aromas exóticos, a delícia da bebida (que custara a Renato uma fortuna, comparada a tradicional cerveja).
De repente, logo após um beijo macio da encantada namorada, Renato sentiu um estranho calor a invadir seu ventre. Pior, não tomava o rumo do apaixonado coração, mas descia perigosamente o tortuoso caminho dos intestinos. O calafrio que se seguiu foi inconfundível – quem já não passou por isso – e Carminha viu seu príncipe anfitrião obrigado a desesperada corrida para o banheiro.
No dia seguinte, é claro, ligou a bradar que eu lhe dera um chá laxante. Por cerca de uma hora, Renato se contorcera entre lancinantes cólicas e humilhantes pedidos de perdão. Quando lembrei a recomendação que tomasse, no máximo, uma caneca daquele chá, ele emudeceu: tomara um litro, ou mais. E aí… desculpem a expressão, borrou-se de amor, diante de sua musa.
Mas a moça divertiu-se com o inusitado. Elogiou a ceia, disse que sentira um calor gostoso no corpo e assim, o cardápio comprovava sua competência. Ficou a lição, obedecer as receitas é fundamental. Tudo em excesso, acaba assim. Querem experimentar? Eu mando as medidas certas. É festa garantida. Para namoros novos, casamentos antigos já na base do pão-com-linguiça também. O Chef-Bruxo aqui, garante.
