Abro os jornais, como faço sempre, e observo algumas manchetes:
• “Três defeitos seguidos e um apagão em 11 estados”
• “Ao menos 88 cidades gaúchas ficam sem luz”
• “No Vale dos Sinos, quase cem horas sem água e luz”
• “Falha de energia também afeta produção rural”
• “Mulher morre atacada por cães”
• “Susto em Pelotas: Recém-nascido é deixado em ônibus
• “Polícia Federal apreende 40 kg de cocaína”
A variedade de assuntos é desconcertante, mas mantém um traço comum: todas são manchetes negativas. A falta de energia em boa parte do país impõe uma reflexão: o que seria do Brasil se a indústria crescesse de acordo com o doentio otimismo das autoridades de Brasília? Simplesmente não haveria energia suficiente para um crescimento mínimo da produção. Aqui, no Rio Grande do Sul, há décadas temos regiões estagnadas por absoluta falta de investimento em infraestrutura.
O abandono de um recém-nascido dentro de ônibus urbano é desconcertante. Uma policial que atendeu a ocorrência chorou ao vislumbrar o bebê sobre um banco. Lembro que outra criança foi abandonada perto da estação rodoviária de Lajeado, Graças à sensibilidade do juiz de Direito Luis Antônio de Abreu Johnson, o piá – apelidado Vicente – foi adotado e já ganhou um lar.
A volta à normalidade, em março,
me dá calafrios e promete bagunça
A que ponto chegou-se, heim? O que esperar de um mundo que abandona um neonato numa caixa de papelão e maltrata pais e avós? Por isso minha mãe costuma dizer:
– Tu vê como é o mundo! Tem cursinho pra tudo: pra aprender a dirigir, pra noivar e casar, pra ser padrinho de batizado e de casamento… só não tem cursinho que ensina a ser pai e mãe – escandaliza-se dona Gerti coberta de razão, como toda a mãe.
A falta de investimentos estruturais em educação cobra um grave preço com consequências que atravessam gerações. Sem conscientização para reduzir o número de filhos jamais teremos saúde, segurança e emprego para todos. A gravidez na adolescência, o consumo de álcool e drogas entre jovens, o envolvimento cada vez mais precoce no mundo do crime e tantas outras mazelas sociais estão intimamente ligadas à desagregação familiar.
As manchetes arroladas no início do texto, num fevereiro escaldante de 40°C no Estado da geada e da neve, permite prever um ano preocupante. Em Porto Alegre e na Região Metropolitana os ânimos estão acirrados em decorrência da greve dos motoristas e cobradores de ônibus que, no dia de hoje, já esteja resolvida.
O trabalhador está revoltado, indignado com os problemas que se avolumam na mesma intensidade com que cresce a carga tributária. Pensar no retorno à normalidade, a partir de março, me dá calafrios…