Chinesinho, apesar do nome, adora samba de raiz, pagode e por consequência, carnaval. É uma espécie de compulsão e, ao mesmo tempo, um sério problema para a atual namorada, que não é lá muito chegada às folias de Momo. Foi por esse motivo que, na semana passada, ao chegar do ensaio de sua escola de samba favorita, em Porto Alegre, Chinesinho decidiu acabar com a relação que já durava um ano. Era demais para ela imaginá-lo de pandeiro na mão, a dar ritmo ao rebolado da mulherada. Era demais para ele, trocar o carnaval por causa de uma mulher que não sabe sambar. Decidido, anunciou solene que iria embora. Aliás, faria melhor, voltaria para a ex-esposa – mãe de seus dois filhos – essa sim era mulher de verdade e o aceitaria do jeito que é.
Encostou a sua BMV (Brasília Muito Velha) – recém-saída de uma reforma geral, na porta de casa e a carregou o que podia. A namorada, assustada com a inesperada reação, tentou argumentar. “Tu vais para onde, homem?” Ele respondeu com a voz rouca de cerveja e refrão de samba-enredo: “para qualquer lugar onde possa cantar meu samba”. Quando ela percebeu que até a poltrona favorita dele, estava bem atada na capota da veterana camionete, desesperou-se. Aos prantos, entrou no carro e disse que dali não saía. “Vamos dar uma volta e negociar” disse ela.
Foram parar, sabe-se lá como, em um motel. Na portaria, Chinesinho justificou que estavam levando móveis para doar a uma instituição de caridade mas, no meio do caminho, a patroa sugerira uma aventura diferente. Assim, por cerca de duas horas, a guerra deu lugar a paixão. Só que ao retornar à casa da namorada, sentiu que voltaria à velha briga. Deu ré, e acabou cumprindo o prometido: foi-se embora para o antigo lar.
Quando as crianças viram a Brasília carregada, alertaram a mãe. A ex-patroa, aturdida, nem o deixou esvaziar o carro. “O que aconteceu? Voltar assim, de repente? Ai tem…” Em poucos minutos de conversa, ela ironizou que o samba havia lhe roubado a memória: ela também não gostava dos sumiços dele em pagodes e beberagens. Assim, lá estava, de novo, o Chinesinho na rua da amargura. As mulheres decididamente não entendem o espírito livre de um carnavalesco, resmungou. A vizinhança se divertiu ao ver a BMV, arriada de tanto peso, gemendo o desencanto do Chinesinho, de volta à namorada.
Tentou disfarçar o fracasso com um ar superior de samba-exaltação. Não convenceu. Até a hora de abrir o portão, precisou negociar alguns itens importantes. Ela, é claro, ganhou a parada: pagode só aos sábados! E confessou um novo fetiche: queria retornar ao motel, como o bagageiro da Brasília carregado. “Ela pirou e eu ainda mais por aceitar isso!”, pensou Chinesinho. “Vai acabar comigo e com a suspensão da Brasília”.
Mas não teve jeito: Pra ter de volta a amada, precisou carregar pelo menos mais duas vezes o carro com móveis, a sua pesada poltrona, inclusive, e ainda ter energia para não decepcionar na hora H. Quem disse que mulher não sabe ser vingativa?
Fica o alerta aos carnavalescos – homens e mulheres – que se entregam à folia e esquecem aqueles que deixam em casa. Melhor levarem seus parceiros, mesmo a contragosto, evitando todo esse estresse que mais parece samba que “atravessa”, ou seja, quebra o ritmo na avenida e acaba caindo para o segundo grupo, com risco de ser eliminado. Bom carnaval a todos!