Um amigo, divorciado há muitos anos e já cinquentão, costuma perambular pelos bares da moda e coleciona histórias de mulheres desesperançadas. Num recente encontro no shopping ele me contou que existe uma legião de solteiras, casadas e mal amadas em geral que não sonham com um príncipe encantado, lindo e de corpo escultural. Elas sonham, apenas, com uma nesga de carinho, um resquício de atenção ou somente uma companhia confiável para compartilhar frustrações e rotinas.
“Puxar a cadeira à mesa, abrir a porta do carro para desembarcar ou simplesmente ser educado são motivos para que elas se sintam valorizadas”, contou a experiente raposa felpuda, craque em relacionamentos. Algumas destas mulheres são deslumbrantes, mas fustigadas pela solidão, apesar do dinheiro, das roupas, jóias, viagens.
Viveram histórias frustradas de amor ou episódio onde o fogo da paixão se extinguiu. Outras até mantêm relacionamentos estáveis, mas são casamento de fachada. Muitas vezes para manter as aparências por temerem a reação dos filhos diante da separação. E até mesmo para não abrir mão do conforto, da idas a Punta Del Este, Nordeste e Caribe.
“Ficam casadas para ter a casa cheia de gente e, desta forma, espantar o fantasma da solidão. Também falta-lhes coragem para enfrentar um novo desafio, de uma guinada radical na vida”, acrescenta meu amigo, a partir de depoimentos captados em mesas de badalados bistrôs de Porto Alegre.
Travestidos de Dom Juan, fazem das redes sociais armas eficientes
A escassez de romantismo tornou-se uma epidemia que assola uma legião crescente de homens e mulheres. As redes sociais são fios condutores de esperança, uma máquina de ilusões virtuais que culminam na depressão. Todos conhecem seus riscos, mas cortesia é artigo raro no mercado dos relacionamentos. Em época de relações descartáveis, almejar um afeto minimamente seguro é como um pedido para o Papai Noel. “Ser respeitada e alvo de agrados é mais que suficiente, mas é raro”, assegura o observador afetivo.
Atentos à demanda proliferam especialistas em sedução. Eles colecionam delicados frascos de perfume francês no porta-luvas do carro para surpreender as incautas. Enviam flores com bilhetes calientes junto a lingeries. Disparam torpedos açucarados, investem no desejado romantismo. São travestidos de Dom Juan informatizados e vendem ilusões. Cinicamente deixam claro, logo no primeiro encontro, que também buscam companhia sem compromisso.
Numa sociedade de comunicação intensa, de conexões permanentes, homens e mulheres desaprenderam a conversar olho no olho, sentindo a respiração do outro, longe dos smartphones e redes sociais. Não se exige comprometimento, apenas um pouco de educação e respeito. Afinal, seriam eficientes paliativos no combate à solidão.