Eles chegaram de mansinho. O pai, preocupado, advertiu os filhos para ficarem de mãos dadas com a mãe defronte ao imponente McDonalds. As três crianças atravessavam o vidro grosso da porta com seus olhinhos ansiosos. Lá dentro estava o “véio” na fila. Voltou sorridente, parecia carregar um troféu em uma caixinha colorida com cheiro de hambúrguer. Sentaram-se em um banco da praça da Alfândega e a mãe, caprichosa, com uma faquinha de cozinha, partiu seu “lanche feliz”, em três pequenos pedaços. A caixinha ficou com a menina, o brinquedo com o guri e o mais novo, com os canudinhos coloridos e as batatas fritas. E se as dividisse com os manos, poderia brincar com os brindes também. Acordo justo, topou na hora!
Sentado ao lado desta cena, o aposentado Jair comoveu-se. Aproveitou a condição de “vovô” e aproximou-se daquele pai e sussurrou: “Compra outro cheesburger que eu pago”. Surpreso, ouviu daquele homem humilde: “Obrigado, mas eles estão contentes, não é? As crianças precisam viver com o que eu e a mãe deles podemos pagar. E, no futuro, se Deus quiser terão um emprego melhor, porque assim tem que ser. Eles estudam. E aí comprarão quantos lanches quiserem”, advertiu. Falou ainda que a esmola “amolece a vontade de ser doutor”. O aposentado, mais impressionado ainda, acarinhou a cabeça das crianças, saiu de fininho e voltou, minutos depois com uma surpresa.
“Já comeram tudo?” Perguntou. E deixou na mão de cada uma das crianças um saquinho de pipoca doce. “É um presente do vovô para estes futuros doutores”, disse. O pai e a mãe, agradeceram, as crianças abraçaram o velho leitor que decidiu voltar para casa. Precisava dividir aquele momento com sua mulher, sempre envolvida com os netos. Jair estava convencido de que nem tudo estava perdido. “Ainda tem gente com vergonha na cara. Eles salvarão nosso Brasil. Não estarei aqui, mas quem sabe, lá de cima, poderei abençoar esta gente que não se entrega e enfrenta dignamente as dificuldades da vida”, concluiu.