Quando conheceu a Mariana, foi uma dificuldade convencer seus pais que estava realmente apaixonado e ela era uma moça de boa família. A Mariana é negra e em função disso, amigos e familiares do Adroaldo – branco, descendente de portugueses, alemães e “outras misturas raciais que nem lembro mais”, costuma dizer. Mas mesmo assim, todos acreditavam “que a Mariana era do tipo “tinhosa” e “só queria meu dinheiro”.
Adroaldo, típico brasileiro classe média, não sabia a qual fortuna se referiam, “Eles, gente que eu amava e admirava, é que se mostravam ricos em soberba e ignorância”, concluía. Ainda hoje, alguns tios do Adroaldo não simpatizam com Mariana. Mesmo ela tendo demonstrado extrema afeição tanto em casa, quanto no trabalho, ajudando a construir um belo patrimônio para a família.
Quando soube dos lamentáveis episódios envolvendo o árbitro gaúcho e jogadores de futebol, Adroaldo me ligou para contar uma história triste de racismo. No final do ano passado, os filhos de seu casamente com Mariana – de 12 e 14 anos – foram vítimas de constrangimento em uma festa de aniversário na casa de colegas de colégio.
A mãe de um dos convidados, sentiu falta de sua carteira na bolsa. Nervosa, afirmava que havia deixado no quarto onde alguns meninos brincavam. E advinha de quais meninos suspeitou? Dos filhos do Adroaldo que passaram a ser pressionados por esta senhora. Ela insistia que talvez “os moreninhos tenham pego a carteira, sem querer, coisa de guri”, insinuava ela, ignorando as demais crianças da sala.
Naquele momento, a sensação é de que haviam somente os dois naquela sala, pelo menos, com jeito de larápio. Os outros, “talvez por serem brancos permaneciam isentos de suspeitas”, percebeu Adroaldo. O drama só não foi maior porque a proprietária da casa, ao se dar conta do que estava acontecendo, defendeu os meninos e indignada, xingou a convidada – uma antiga amiga da família -, pela atitude leviana e discriminatória. Os meninos choraram, nervosos e humilhados.
Minutos depois a própria acusadora, apareceu com a carteira na mão: “havia perdido entre o banco do carro e a caixa de câmbio, na hora de juntar o pacote com o presente do aniversariante”. “Os meus guris aceitaram as desculpas”, principalmente porque esta senhora chorou, ao dar-se conta da injustiça cometida. O filho mais velho do Adroaldo quis ir embora, mas os amigos imploraram para que ficasse e ele aceitou.
Depois, demonstrando maturidade, disse que aprendera uma lição: enfrentará toda forma de preconceito sempre com dignidade, provando que não é melhor ou pior do que ninguém só por causa da cor da pele ou crença religiosa. “Mas eu, como pai, ainda me sinto revoltado com o ocorrido. E rezo para que o futuro, lhes reserve um mundo mais justo e equilibrado entre todas as raças e crenças”, conclui.
Está certo o Adroaldo. As diferenças nos colocam à prova, nos enriquecem em cultura, tolerância. Engana-se quem se acha melhor por ser de determinada cor. O tempo é devastador para todos. E nos tornamos melhores quando miscigenamos experiências. Aqueles que não gostam dos que a eles não se assemelham, com certeza, não tem lá muito amor próprio. Quando a gente não se gosta muito, como admirar o outro?