Depois de um dia inteiro na estrada, o Everaldo decidiu, após o banho no hotel, tomar uma cerveja num barzinho acolhedor que costumava frequentar toda vez que ia a Passo Fundo. Separado a pouco mais de uma semana, sentia-se ainda deprimido com o fim de um casamento de três anos. Fora abandonado pela ex-mulher, justamente porque viajava demais em seu trabalho.
Fazer o que? Era a vida que o empurrava. O salário e boas comissões não lhe permitiam romper o ciclo profissional. Mal entrou no bar reparou em uma loira de óculos finos, ar de professora e uma blusa justa, verdadeira aula de anatomia feminina. “Deixa pra lá”, pensou, “É muita areia pro meu caminhãozinho”, subestimou-se. Mas estava enganado.
De repente, enquanto se esforçava para ler a agenda sob a luz azul do bar e encontrar o número de uma antiga namorada, o Everaldo percebe que a loira tentava falar ao celular sem sucesso. Eram só os dois no bar. Assim, ofereceu o seu aparelho. “Não é nada urgente”, responde a moça, com uma voz doce que seduziu o Everaldo. E o nome dela? Em segundos ele já sabia que se chamava Janaína e era representante comercial como ele.
Depois de uma dose de uísque e alguns copos de cerveja ouviu, emocionado, o relato de que a Janaína também perdera o marido em função do trabalho. Tantos dramas semelhantes levaram o Everaldo a tomar a iniciativa de pegar na mão da Janaína, que em seguida, colava a perna macia na dele e pronto: acendia um braseiro que andava meio apagado.
Foi uma noite inesquecível. Infelizmente, em todos os sentidos pois, ao acordar pela manhã, a loira carente não estava mais lá. E aos poucos, o Everaldo se deu conta de que também não estavam seus cartões de crédito, o cheque, o celular e todo dinheiro que tinha na carteira. E a sensação de otário caindo num golpe antigo, somou-se a depressão que se abateu nos dias seguintes:
“Teremos de pedir atestado de antecedentes para um encontro casual de bar?”, questiona ele. Não sei não, acho menos constrangedor simplesmente desconfiar toda vez que uma mulher linda, sedutora e compreensiva cair assim, de maduro a teus pés. Aquele velho samba diz tudo: “laranja madura, na beira da estrada, tá bichada, ô Zé, ou tem marimbondo no pé”.