As ruas de Porto Alegre estão, definitivamente, alegres! É tanta gente, tanta celebração que o contraste dos maus humores, dos rançosos que odeiam a tudo e transformam o cotidiano em uma disputa entre alas selvagens, se torna uma piada sem graça. Desde o início da Copa do Mundo, já pude conversar, trocar acenos com gente de lugares que nunca vi além de cartões postais, como a Austrália, o México e a Holanda, por exemplo. E com eles aprendo todo o dia, como é importante interagir, escapar do isolamento que coloca a cultura em masmorras de pura ignorância. Não somos melhores do que ninguém, nem piores. Somos gente com hábitos diversos que precisam se conhecer melhor para que tudo funcione melhor.
Na terra dos “do contra” – Grêmio ou Inter, Rotary ou Lions, interior ou capital, todos se encontravam no caminho do gol traçado pela Administração Municipal e pareciam se entender perfeitamente, apesar dos idiomas e costumes. Tudo o que os separava, parecia unir. A brincadeira no limite certo, o abraço fraterno a um adversário derrotado ou vencedor. Tudo se tornava motivo para celebrar uma segunda chance. As ruas lotadas de automóveis e as ocorrências reduzidas.
Acho que vale a pena enfrentar uma multidão e visitar Porto Alegre. Não precisa ter comprado ingresso para os jogos, tem centenas de bares com imensas televisões. Quem gosta de música e dança, pode ir a Fan Fest, montada à beira do Guaíba com um gigantesco telão de alta definição. É quase como estar no estádio, sem gastar ingresso. E aí você vê gente confraternizando em vários idiomas, linguagem de sinais. Todos se entendem na Babel da festa.
Os estrangeiros voltarão para casa e nos deixarão a mais importante lição: tudo é muito maior do que nossas rixas e pendengas regionais. Que o pensamento tipo nuvem de chuva, sujeita a trovões e tempestades, só provoca inundação mesmo. Vamos torcer, fazer política, amar, casar, descasar, escolher uma religião, ou não, sem acreditar que precisamos impor nossa vontade, à força. Os “barra brava” do cotidiano, que fiquem presos nas fronteiras de sua estupidez. Esses que destroem o que não ajudaram a construir, que sejam castigados. Porque leis foram feitas para cumprir e respeito ao próximo é uma lei universal.
Uma senhora holandesa, me disse em um espanhol perfeito, que adorava nos brasileiros essa capacidade de receber com simpatia e generosidade. E que se sentia muito feliz em Porto Alegre. E aí lembrei a turma sem graça que quebrou vidraças dias antes e ela me respondeu: “Estes sempre serão minoria em qualquer lugar do mundo. Eles se devoram entre si, cedo ou tarde”. Então, vamos lá. Se a Seleção Brasileira está meio perdida, com um técnico ranzinza que culpa juízes, lembre que temos andado assim, meio sem rumo, reclamando das pessoas erradas, sem olhar lá no fundo de nossa própria insatisfação. E viva a festa!